As idéias fora do lugar

Roberto Schwarz sustenta que “toda ciência tem os princípios que são originados dentro do seu próprio sistema, e um dos princípios da economia política seria o trabalho livre”.

O que responder?.

"O que há para ser respondido nessas perguntas que foram feitas pelo repórter"

Comentário sobre as Olimpíadas

A falta de investimento um grande obstáculo para o esporte brasileiro

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Saudade

Choramos ainda que silenciosamente quando algo, ou alguém que nos é caro se vai de alguma maneira.
A saudade é um mal sem cura! 
Que insiste em doer, quanto mais se lembra, mais ela encontra aí, razão para arder a sua chama invisível...

A saudade nos chega de muitos modos...
Desde um aroma que evoca um dia bom de uma infância perdida nas garras do tempo, até uma linha sublime de algum bom texto, que nos libertou a alma num vôo além da imaginação, a montar o alado corcel da leitura...
Desde um beijo roubado, ganhado, ou imaginado, nos lábios do ser amado, até o adeus a um amigo numa partida que dá vida a separação e inaugura irremediavelmente a nostálgica vivência da expectativa da chegada...
Saudade é um desejo intenso, incontido e quase irracional de estar onde não se está, mas que se gostaria de estar....
Saudade é querer viver de novo a infância que se esvaiu,
É querer sentir de novo o aroma que no ar se exauriu, 
É querer sentir a paixão e o fogo nos lábios do ser amado, conforme um dia se sentiu, ainda que na imaginação...
É querer reler de novo aquele texto sublime que o infinito nos abriu,
É querer reler mais um vez aquele verso que sufocando a razão, deu sentido ao sem sentido, trazendo a lume o rio da emoção... Num palpitar de coração febril.
Saudade, nostalgia... Só que amou sentiu...
Só que viveu sofreu...
Só quem, vive, só quem ama... Sente!


Joaquim Teles - Kiko di Faria. 

quarta-feira, 27 de março de 2013

O que responder?


Tentarei ser breve neste texto, na realidade surgiu com a intenção de ser apenas um comentário, algo rápido, no mínimo algumas frases, mas foi ganhando tamanho, parágrafos, assim se tornou postagem.  Antes quero ressaltar que esta página, embora esteja estagnada na falta de criações, ainda permanece viva, ao menos nos números estatísticos de visitas diárias.  Obviamente que o Bomba-H já teve seus dias vindouros, talvez algum dia retorne a esse bom tempo, mas ainda sim é valido ressaltar que o nosso ambiente virtual permanecerá sempre acessível a qualquer leitor interessado em nosso conteúdo.


Indo ao que interessa, já algum tempo andei me angustiando em torno de algumas posturas de nossa TV brasileira. São atitudes, modos de programações, que estão se distanciando cada vez mais de uma prática que deveria ser minimamente decente. E sim, qualquer que seja o gênero do programa televisivo a responsabilidade deve ser um padrão constante, principalmente quando colocamos em contexto uma TV aberta. Portanto, sendo humor ou tragédia, a mídia influencia a consciência e comportamento social.  Nesta postagem, cito sem temor o programa que se auto-define jornalístico e humorístico, trata-se do CQC – Custe o que Custar transmitido pela emissora Band. É um programa polêmico que traz temas relevantes, mas outras vezes acaba pecando pela vontade exacerbada em favor da audiência, capaz de agredir ou ter posturas imorais e vincular ao grande público.

Na ultima segunda-feira foi ao ar uma matéria feita no Congresso Nacional em que o repórter tem como pauta uma tentativa de conseguir algumas palavras de José Genoino. Não entrarei em detalhes sobre a matéria, pois a mesma pode ser vista no vídeo que compõe esta postagem, mas algo relevante me chama atenção, diante de todas as investidas do humorista que apenas lança indagações impossíveis de serem respondidas. Primeiro ele pergunta a Genoino se há mais bandidos no Congresso do que na prisão, depois pergunta aonde ele iria passar o réveillon se seria na papuda  e na maior das boas intenções afirma no final que “o deputado Genoino não respondeu às perguntas do CQC o que ele tem feito constantemente com a imprensa nacional. A gente quer ouvir umas respostas, a população brasileira também quer.” Ora, mas tendo em vista a essas perguntas, eu que faço outra ao leitor: responder o que? O que há para ser respondido nessas perguntas que foram feitas pelo repórter, quer que ele diga que “ - Há sim vai ser ótimo passar o réveillon na cadeia, vou adorar!”. Como assim dá uma tchauzinho pro CQC? Definitivamente não é algo sério como tão pouco é corajoso, pois se fosse mesmo uma ousadia ou uma grande audácia tais perguntas, porque ele não faz essas mesmas indagações para juízes, o Supremo Federal é bem pertinho do Congresso, se eles são tão inovadores e não tem medo de nada, então vão lá perguntar pro Lewandowski ou para qualquer juiz se há bandidagem nos sistema judiciário, que ali só tem bandido, etc, etc, etc.

Na realidade a imprensa brasileira e nisso pode se incluir muitas outras programações e emissoras adoram se colocarem como os bonzinhos, santinhos da história. Como se o interesse deles fosse único e exclusivamente o interesse público. Francamente, seria muita ingenuidade pensar que todas as perguntas feitas que visam agredir o político é feito apenas para vingar a sociedade, nada disso! É uma intenção clara de busca de audiência, é uma suplica para que Genuíno se revoltasse e agredisse o repórter, pronto seria o que xeque-mate. Os inocentes e mocinhos da história ganhariam o dia e mais uma vez cercaria de adjetivos e piadinhas que o Genuino, colocando-o como o grande vilão a ser destruído. Ora, não estou aqui querendo defender políticos corruptos, na verdade deixo claro que um dos maiores problemas do Brasil e isso não apenas hoje, mas durante algum período vem sendo a corrupção que impera sobre várias instituições do país, principalmente na administração pública, e se, portanto, Genuino foi julgado e condenado deve, de fato, parar na cadeia como qualquer um que inflige a lei. No entanto, é um direito dele e isso ninguém pode negar a vontade de aceitar ou não uma entrevista. Aliás é um direito de qualquer um.


Por fim, vale deixar claro que o humor, como qualquer brincadeira, deve ter seu ponto de começo, desenvolvimento e fim, o Brasil e o ser - humano não pode viver uma vida apenas de humor, a momentos de ser falar sério e esses muitas vezes trazem “realidades” trágicas, ainda mais para nós brasileiros. A seriedade é algo necessário para TV brasileira e não deve está apenas nas notícias do William Bonner afirmando  que cresceu o número de violência ou o fraco desempenho brasileiro em matéria de educação, a seriedade deve está também no papel de prevenção, de conscientizar a população que a coisas que podem ser evitadas na vida e a mídia tem um papel primordial nisso.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

VIII Semana de História



  • História do Brasil Fronteiras e Perspectivas
  • X Arte de Cantar História 

De 1 a 5 de Outubro.
Auditório da Prefeitura - 20:00 Horas. 

Idéias em movimento - Teorias para Reforma


ALONSO, Angela. Idéias em movimento – A geração 1870 na crise do Brasil – Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002. pp. 245 - 262


O texto a ser analisado é Teorias para Reforma, presente no livro Idéias em Movimento – A geração 1870 na crise do Brasil - Império, da socióloga Ângela Maria Alonso. Além dessa formação, Alonso também alcançou o doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), mesma instituição pela qual, atualmente, ela ministra suas aulas. Fora do país Alonso buscou o pós-doutorado na Yale University e, também, esteve envolvida em outras pesquisas acadêmicas.

O capítulo sobre-citado, e pela qual está produção fica responsável em analisar, retrata princípios intelectuais, em que alguns casos essas regras (ou princípios) estavam inseridas em uma cientificidade própria da influencia positivista da época. Eram intelectuais que lançavam seus olhares para as condições do Brasil e que de certa forma estavam envolvidos em um contexto com mais de um grupo e, portanto, mais de uma consciência a ser admitida e projetada.

Em resposta a agenda política brasileira, o movimento intelectual da geração 1870 produziu programas completos de reforma modernizadores, que estão tanto na conclusão de seus livros de doutrina, como em circulares eleitorais e manifestos políticos que lançaram em meados dos anos 1880. (p. 246)

Há grupos tais como positivistas abolicionistas, novos liberais, federalistas científicos, liberais republicanos em que entorno das discussões que estes se envolviam uma que se destaca seria a passagem do Brasil que deixava de se tornar império e dava seus primeiros passos rumo a republica. Todas as mudanças, desencadeadas por essa ruptura de governo, passavam-se por uma consciência de projeto, mas que não deveria sofrer com radiais mudanças.  Ou seja, o contexto político envolvendo o fim do Império junto ao surgimento do ideal republicano, o que mais tarde, tornaria o Brasil uma republica, passa a ser estimulado não por uma apocalíptica revolução – “Todos os grupos exorcizaram a revolução” (p.259) – nas  estruturas políticas, sociais e econômicas do país, mas pela manutenção de uma estrutura já vinda da monarquia, mas que agora visava projetos adequados que aproximassem o Brasil da modernidade e o capitalismo, entendido como um prolongamento gradual da Republica e federalismo que estaria ocorrendo. Ou nas palavras de Alonso: “O liberalismo econômico reza que o capitalismo viria a seu tempo antes, era preciso limpar o terreno para seu desenvolvimento.” (p. 253)

No entanto, vale ressaltar que embora alguns setores políticos estivessem envolvidos com uma consciência e influencia externa, haveria de se pensar as condições e especificidades que envolvia as novas transformações ocorridas no país. Embora, pudesse supor que havia um discurso teórico diferente da prática – ou melhor, que as “idéias estariam fora do lugar”, nota-se haver em cada circunstancia, e no Brasil definitivamente não seria diferente, especialidades que desencadeavam em realidades nem tanto revolucionárias.

Uma diferença que pode ser notada é a questão do escravo nessa nova situação, republicana. Ora, haveria grupos tais como os abolicionistas que desejavam o fim absoluto e sem indenização da escravatura, enquanto outros, liberais republicanos, desejavam o processo gradual do fim dos escravos.  Tratavam tal questão, não como uma mudança social ou política, mas econômica.  “O fim da escravidão era problema do tempo. Bom seria chegar a abolição sem transtornar a propriedade agrícola, sem ofender aos direitos e interesses envolvidos. A reforma política era independente da reforma da economia.” (p. 253)

Há outros interesses intrínsecos ao fim da escravidão. Vontades que não era apenas no fim do trabalho escravo, propriamente dito, mas também seria uma forma de trazer o progresso ao Brasil, recebendo assim imigrantes europeus em troca de escravos, provocando-se a política de branqueamento. A chegada desses novos imigrantes seria útil para outros motivos políticos. As regiões do sudeste e sul aumentavam sua população o que, dessa forma, “poderiam equilibrar a balança de poder político até então pendendo para o lado nortista.” (p. 248) O projeto proposto, visava mudar o poder do Senado para a câmara dos deputados o que, desencadearia, em um federalismo – em que cada província, dependendo do número de sua população, poderia emitir um maior número de políticos para representação da região. O que pode ser analisado nessa trama de interesses políticos é um constante setor político que, embora houvesse pensamento e propostas mudanças na representação administrativa, ainda sim estariam controlando o desenrolar do Brasil na republica. Esse desenrolar estava processualmente relacionado a motivos econômicos que se exemplifica com outras questões tal como a escravidão.

Ao tratar do tema econômico, outra característica pensada pelos intelectuais na época de crise Brasil Império, seria o papel mínimo do estado. Tratava-se, portanto, de um pensamento de liberalismo econômico vindo de uma consciência e influencia externa.

Liberais republicanos, federalistas científicos e novos liberais gostariam de ver ampliado o escopo da livre concorrência, da liberdade bancaria, da liberdade de comércio e da indústria... O Estado não deveria ser um agente econômico, um investidor. Deveria prover apenas a infra-estrutura de comunicações e transporte (telégrafos, correio e estradas de ferro), as condições para a expansão de uma economia capitalista. (p. 247)

Sabe-se que, por algum período de tempo – seja no império e republica, o Brasil teve como um dos principais produtos o café. Admitindo que o produto fosse exportado em demasia os cafeicultores, mais tarde, junto ao estado iriam tomar medidas de proteção a esse produto. Tais medidas se deram por meio da desvalorização cambial o que fez o preço da moeda nacional cair em detrimento a moeda estrangeira. Tal medida fez com que o café fosse mais comprado por estrangeiro, pois se antes a moeda se igualava ao dinheiro estrangeiro, agora desvalorizado o café custaria menos. Essa medida observa-se haver uma preocupação da elite em manter sua renda pomposa como seria de seu desejo. No entanto, uma desvalorização cambial iria prejudicar a maioria da sociedade brasileira, pois o nosso país mais importava produtos do que exportava. Conforme a moeda brasileira fica mais fraca em relação a estrangeira a compra de produtos importados ficariam mais caros, mas não para os cafeicultores que iriam compensar isso com suas vendas. No entanto, os dinheiros da compra dessas sacas de café ficariam apenas nas mãos dos cafeicultores, trata-se, portanto, de mais uma medida que demonstra haver uma elite interessada em se manter no lucro, enquanto a população se via a mercê de interesse dos donos do poder.

O que diferencia o texto de Ângela Alonso para um dos clássicos da historiografia, que intitulou sua obra como Donos do Poder,Raymundo Faoro estaria nos objetivos que cada um dos autores visavam compreender.  Faoro com jurista que inclusive esteve como presidente das Organizações dos Advogados do Brasil (OAB), utiliza-se de sua linguagem e análise de juristas para compreender a situação e formação do Brasil na republica. Enquanto que Alonso observa nesse capítulo as propostas políticas, pouco revolucionária, que visava aos poucos construir uma nova realidade para o Brasil. Nas palavras de Alonso, conclui-se: “O diagnóstico da conjuntura como crise de decadência desembocou em duas conclusões: a inépcia da elite política imperial para levar avante as reformas e a inoperância do parlamente em processá-las” (p. 258). Diante dessas fragilidades administravas os contestadores, visavam-se lançar a esses novos postos políticos, mas suas posições deveriam se debruçar as “mudanças negociadas e paulatinas, sem rupturas drásticas, sem quebra da ordem. Seus projetos têm por ponto de fuga a transformação controlada da sociedade e do sistema político, através das instituições e da lei.” (p. 259)



Além disso, os projetos, desses intelectuais e contestadores, embora estivessem em muitos sentidos questionando os saquaremas – grupo político do segundo império, esses questionamentos se davam a partir de algumas medidas tomadas por essa classe conservadora como: conflitos provinciais e até a Guerra do Paraguai. Mesmo, podendo-se admitir que a passagem do Brasil império para o Brasil republica fosse desencadeado por novos pensamentos que surgiram no contexto do império, provocando numa possível traição contra o absolutismo – ou seja, a classe que antes pensava uma coisa por perder o poder, passa a pensar e a questionar outros fatores, dessa forma surgiu o partido republicano. No entanto, a ordem e a tradição mantida pelos saquaremas durante longo tempo que estiveram no poder, ainda continuava sendo admitida e vangloriada, pois “nisso estavam estreitamente próximos do realismo conservador da elite imperial. O movimento intelectual da geração 1870 não foi nem popular nem revolucionário. Foi reformista.” (p.261) Ou seja, as novas mudanças ainda passavam pelo crivo e pelas intenções de outras elites que em muitos aspectos se assemelhava a elite questionada do segundo império.  



sexta-feira, 14 de setembro de 2012

As idéias fora do lugar
Livro Ao Vencedor as batatas

Schwarz, Roberto- “Ao vencedor as batatas”- I.  As idéias fora do lugar. São Paulo: Duas Cidades, 1992, 4ª Ed.

Na apresentação do capítulo I. “As idéias fora do lugar” do livro Ao  Vencedor as batatas, publicado em 1977, Roberto Schwarz sustenta que “toda ciência tem os princípios que são originados dentro do seu próprio sistema, e um dos princípios da economia política seria o trabalho livre”. Na propaganda de um panfleto liberal de Machado de Assis colocava o Brasil para fora do sistema da ciência, pois aqui o que predominava era a escravidão, considerada um fato descortês e execrável.“Estávamos aquém da realidade a que esta se refere; éramos antes um fato moral, impolítico e abominável”[1].


Crítico da literatura de Machado de Assis, Roberto Schwarz afirma que o Brasil respira as idéias européias, mas em sentindo totalmente impróprio, e dessa forma seriam problema para a literatura. Segundo Schwarz as idéias por esse prisma estariam fora do lugar, baseado na idéia de Marx que a estrutura determina a infra-estrutura, desse modo o social daria forma à literatura, a grande contradição observada por Machado de Assis no Brasil seria a estrutura totalmente atrasada e colonial, e a superestrutura avançada e liberal. Ainda sob o ponto de vista de Machado o escravismo enquanto persistisse no Brasil, o parlamento seria ao estilo inglês, e Schwarz observava ainda que as idéias que aqui circulavam eram baseadas nos movimentos existentes em Paris, e que estariam fora de centro, se relacionadas ao contexto europeu.

Schwarz encontra uma explicação histórica para afirmar no seu ensaio de que as idéias estariam fora do lugar, isso ocorria pela dependência econômica do Brasil ser baseada no escravagismo e a supremacia intelectual da Europa que era revolucionada pelo capital. Enfim, as idéias liberais não teriam meios para serem praticadas no Brasil, mas não poderiam ser totalmente rejeitadas[2]. Era um discurso incompatível com a realidade escravagista e clientelista existente no País.

O Brasil é um país agrário e independente, e toda a produção era proveniente do trabalho escravo de um lado e de outro a dependência do mercado externo. Independência era um feito recente no país e em nome dos ideais de liberdade franceses, ingleses e americanos, que já faziam parte da identidade nacional, segundo Emilia Viotti  esse conjunto ideológico existente no Brasil iria chocar-se contra a escravidão e seus defensores e tendo que conviver com eles.[3]

A não modernização da mão-de-obra na agricultura no Brasil, segundo Fernando Henrique Cardoso, era de que o escravo não estaria inserido no mercado de trabalho especializado, que apenas iria espichar o dia de trabalho do mesmo, para discipliná-lo, contrário do que era moderno, pois era fundada na violência e na disciplina militar, e a produção escravista era dependente da autoridade mais que da eficácia.[4]

Segundo Schwarz a colonização gerou três classes de população, baseada no monopólio da terra, o latifundiário, o escravo e o homem livre, que na verdade era totalmente dependente, a relação existente entre as duas primeiras classes era clara, porém a classe dos terceiros que era interessante, nem donos de terra e nem proletários e seu acesso à vida e bens matérias era totalmente dependente do favor, direto ou indireto de alguém maior que ele.[5]

Havia de fato uma discrepância entre as idéias liberais, a escravidão e a prática do favor não foi obstáculo para incorporação desses ideais pela elite intelectual e política do Brasil, tendo em vista que a geração de intelectuais se formou em universidades européias, equiparando valores e comportamentos.

“Adotadas as idéias e razões européias, elas podiam servir e muitas vezes serviam de justificação, nominalmente “objetiva”, para o momento de arbítrio que é da natureza do favor “[6]


Schwarz argumenta que o escravagismo desmente o liberalismo e ainda mais o favor seria tão incompatível quanto o mesmo, há um deslocamento e uma distorção quanto à submissão das idéias liberais no Brasil, dando origem a um padrão particular, mas não se ajustando completamente ao local. Para ele ainda a distorção desses conceitos estrangeiros são inevitáveis, pois é o único modo de situá-los em contexto local usando os termos importado. Para Ângela Alonso[7], as idéias não estariam fora do lugar, apenas em movimento, pois muitas são as disputas que permeiam o pensamento político no Brasil, e suas mais diversas interpretações, seja na prioridade do Estado ou da sociedade. Alonso ainda compara o discurso de Sérgio Buarque de Holanda seria o oposto do pensamento de Faoro, que o patriarcalismo surge como herança rural e o Estado patrimonial lentamente são fundados e aprisionados nos círculos familiares, ou seja, o público permanece entranhado no setor privado.


Denise Silva



[1] SCHWARZ, Roberto- Ao Vencedor As Batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro, São Paulo: Duas Cidades, 1992, 4ª Ed.As idéias fora do lugar- Pg.1
[2] SCHWARZ, Roberto-  Ao Vencedor As Batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro, São Paulo: Duas Cidades, 1992, 4ª Ed.As idéias fora do lugar-. Pg.12
[3] Ibdem pg 3
[4] Ibdem pg 3
[5] Ibdem pg 5
[6] Ibdem pg 6
[7] Alonso, Angela: Idéias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil- Império_ São Paulo : Paz e Terra, 2002. 3-O sentido da contestação: A reforma da Ordem Saquarema- pg 245