quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mais de 100 visitas por dia

Compartilho com vocês leitores e visitantes do Bomba-H que já algum tempo o blog vem recebendo mais de 100 visitas diárias. No roda pé, da nossa página eletrônica, o visitante pode encontrar as postagens mais lidas e mais procuradas pelos internautas. Além dessas cinco mais lidas, outras postagens estão em constante evolução nos seus números estatísticos e logo estarão entre as primeiras, como é o caso das seguintes postagens:


Identidade brasileira: a formação de uma nação sócio-cultural (Denise da Silva)

AMÉRICA INDÍGENA: Mortal Combate (Joaquim Teles)

Um breve esboço sobre o feminino na sociedade colonial brasileira (Lucas Alves)

Terra Brasilis: a formação e as heranças do povo brasileiro (Dayane Evelyn)

Badaró e Bomba – H. A parceria que não podia faltar

Portanto agradecemos a todos visitantes e continuem acessando o Bomba-H. Pois temos o prazer de trazer para o nosso conteúdo textos carregado do espírito reflexivo de universitários. Embora em alguns momentos o Bomba – H se vê no deserto de produções (parafraseando meu amigo Fernando), ainda sim muitos são os textos que já foram feitos e podem ser lidos por todos que acessam o blog da turma do terceiro ano.

Os primeiros relatos do Brasil

O relato do novo mundo por grande momento é feito apenas por um lado da história. Com isso podemos ressaltar, os primeiros parágrafos do livro Enterrem Meu Coração na Curva do Rio que traz a imagem de filmes de faroeste. Um bando de índio atacando os moçinho que por meio de um “milagre” consegue se salvar, derrotando assim vários peles vermelhas. Dessa forma percebemos que os relatos feitos por viajantes, ou moçinhos, são colocados em uma percepção típica européia. Ou seja, são relatos influenciados por sua cultura européia e pensamento cristão e que pouco se preocupava com o outro lado da história. Portanto o autor Dee Brown buscou em sua obra entender o outro lado dessa história: “A tal gente (pintada) que os atacavam (brancos) é um povo ativo, nobre, com culturas e costumes próprios.”


A carta de
Pero Vaz de Caminnha

Diante disso podemos ressaltar relatos que nos traz uma visão européia acerca do mundo novo. Cristovão Colombo, Cabeza de Vaca, Todorov, Josefina são vários autores que relatam o encontro com o outro. Raro são eles, do inicio, sobre a checada dos portugueses em terras que mais tarde seria o Brasil, pode-se ainda assim, destacar quatro relatos que para muitos historiadores, em diversos artigos e livros, tornou-se a certidão de nascimento do Brasil. A Carta de Pero Vaz de Caminha, junto com a Relação do Piloto Anônimo, a Carta do Mestre João Faras e a Certidão de Valentim Fernandes são quatro importantes relatos que nos remete ao encontro do português com os nativos e também das terras que mais tarde será o Brasil.

É comum ouvirmos a palavra bárbara, em diversos momentos da história. Desde as épocas remotas a palavra sugere uma visão influênciada sobre outros povos. Isso ocorreu com Grécia, Roma, Europa e por fim o mundo novo America.

Em vista do encontro entre o português (europeu) e os índios, Pero Vaz de Caminha cita a seguinte passagem. “Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém.” A própria criação da palavra bárbara está descrito, pela falta de compreensão da linguagem entre um povo, que se dizem civilizados, a outros, incivilizados. Ou como ressalta Ronald Raminelli, em Eva Tupinambá, “o desconhecimento da palavra revelada, da organização estatal e da escrita foram vistos como marca de barbárie e primitivo.” Por tanto, Vaz de Caminha faz referencia aquele povo como bárbaros que pouco entende a cultura e o linguajar europeu/português. Percebe-se que diante da forte presença cristã, havia ainda uma “preocupação” (entre aspas) dos portugueses com os índios. De forma evidente, a carta traz em seus últimos parágrafos que “o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente.”

Alem dessa preocupação em converter aquela gente a salvação, a carta também faz menção a terra fértil e a suposta presença de ouro e prata, que mais tarde Vaz Caminha diz não ter tanta certeza, já que os próprios índios fizeram gesto que levou os portugueses terem essa compreensão. Mais tarde sabemos que a crença de ouro e prata era mais uma ambição do que realidade. No capitulo O mundo sem mal , do livro Visão do Paraíso – Sergio Buarque, o autor faz uma pergunta logo no primeiro parágrafo, e relata que os cronistas lusitanos relatavam, que a suposta longevidades dos índios, sem nenhum mal com doenças ou coisas do tipo se dava por fatores como: “bons céus, bons ares, boas águas de que desfrutavam eles (indígenas).” Essa passagem do livro se relaciona de forma evidente ao que Vaz de Caminha também relata. “Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.” Portanto a presença da natureza esplêndida e o meio físico era por muitas vezes ressaltado pelos europeus diante da América.

As descrições físicas dos índios e do meio são outros pontos de destaque na carta. Por muitas vezes o autor se sente constrangido perante em não entender o novo. Tanto que de inicio na carta, Vaz de Caminha faz questão de afirmar de sua ignorância perante aquilo que viu e deve descrever.

Mapa Altas Miller
 Lopo Homem e Pedro Reinel
 O encontro do português, relatado, com o outro se assemelha a diversos outros relatos entre europeu e mundo novo. As fontes vêm por vezes com diversas contradições, mais quase sempre aparecem com um forte imaginário, preconceito existente, influencia cristã, entre outras coisas também conseguimos perceber a estratégia existente na conquista entre europeu e índio. Fugindo por alguns instantes do tema central, percebemos a grande diferença em se lê os relatos de Josefina de Coll, em Resistência Indígena, onde o titulo falar por si só, e lê Cristovão Colombo chamando os índios de povo afáveis e amáveis. Lógico que trata-se de condições e contextos diferentes, mas ainda sim fica-se claro a quebra do imaginário que os índios aceitariam o europeu com livre e espontânea vontade.

Retornando ao tema central, percebemos que dentre as três principais fontes do “achamento” do Brasil, a Carta de Pero Vaz de Caminha faz nos compreender que o contato dos navegantes lusos com os indígenas, não é tratado de forma agressiva. “Ali acudiram logo obra de duzentos homens, todos nus, e com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levávamos acenaram-lhes que se afastassem e pousassem os arcos; e eles os pousaram, mas não se afastaram muito.” Apesar da diferença cultural – evidente quando os índios estranham animais trazidos nas embarcações – e a diferença no linguajar, a carta nos revela uma forma mais cordial entre portugueses e indígenas, sem perder do ponto de vista os preconceitos e interesse dos europeus na terra.

As três fontes, por assim dizer são todas importantes para a historiografia tanto portuguesa, quanto brasileira. Por muitas vezes os relatos, etnocêntrico se assemelha bastante a um diário, escrito pelos próprios escrivães, sobreviventes ou pilotos. Dentre o ultimo percebemos o relato mais técnico. Fica-se singular a carta de Vaz de Caminha, por apresentar diversos aspectos que nos remetem a precisão, seja geográfica ou cultural, da fonte. A leitura dos três relatos são informativos, como o próprio nome sugere são fontes históricas por natureza. No entanto apenas nos remete a um contexto superficial do que realmente seria o outro, trata-se de uma visão do outro (europeu) sobre os outros (indígenas).

O último suspiro - Rodolfo Amoedo

“A tendência ao realismo português, em contraposição ao imaginativo espanhol, permitiu a famosa boutade: retire-se tudo que há de grandioso num espanhol e resultará daí um português.” Fortemente ligada ao imaginário fantasioso, muitos relatos do novo mundo é trazido de forma extraordinária. Por sua vez o português Pero Vaz de Caminha tenta focalizar-se mais ao encontro, apesar de toda postura européia – desde chamar o outro de bárbaro até comparar as índias com mulheres portuguesas. Portanto percebemos diante dos três principais relatos, que marcam o descobrimento do Brasil, fatores mais relacionados ao mundo racional, objetivo e burocrata. Sem as fantasias e o mundo imaginário criado em outros relatos, muitos deles pelos espanhóis apesar de ficar claro que também os portugueses possuíam seus imaginários em relação ao tempo de grandes navegações. Sergio Buarque e Gilberto Freyre são dois intelectuais que buscam caracterizar a figura do colonizador português. Em comparação com inglês e espanhol Freyre cita que o português “assemelhava-se em uns pontos a do inglês; em outros do espanhol. Um espanhol sem flama guerreira nem ortodoxia dramática do conquistador do México e do Peru; um inglês sem as linhas puritanas.” Vale ressaltar que tanto Gilberto Freyre quanto Sergio Buarque tem certa aversão a forma pela qual o Brasil foi colonizado. Tanto um quanto o outro, ligam o estagio atual, de quando fizeram a obra (Brasil atrasado), ao passado do Brasil explorado.


Um relato bastante técnico do Mestre João, ou como ele se autodenomina “do criado de Vossa Alteza e vosso leal servidor”, traz como destaque o seguinte trecho: “Quanto, Senhor, ao sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapa-múndi que tem Pero Vaz Bisagudo e por aí poderá ver Vossa Alteza o sítio desta terra; mas aquele mapa-múndi não certifica se esta terra é habitada ou não; é mapa dos antigos e ali achará Vossa Alteza escrita também a Mina.” Diante disso, percebemos que a chegada do português nessa terra, não foi um acaso como se pensa em descobrimento do Brasil. A presença de um mapa-múndi que especifica essa terra, faz nos remeter que o “achamento” do Brasil foi um fato predestinado pelos portugueses. Outro fator que merece destaque na carta do mestre João é por se tratar do primeiro documento conhecido que descreveu a constelação do Cruzeiro do Sul e as estrelas próximas ao pólo Sul. Chama-se atenção essa referencia que o autor do documento da sobre a astronomia, isso porque evidentemente o autor fosse um estudioso de astronomia alem de ser físico.


O primeiro encontro
Oscar Pereira da Silva

Analise de documentos históricos, a cerca do descobrimento e contato com o outro, não poderia desconsiderar o gênero literário característico dessa época, a literatura de viagem e relatos de naufrágios. A característica singular, quase como um diário de quem escreve, onde se expressa detalhes e informações muitas vezes influenciados pelos suas próprios ideais – quase sempre cristão – e a tentativa de se expressar o fato tal como ele ocorreu são fatores desse tipo de gênero. A carta de Pero Vaz de Caminha se insere nesse estilo literário, pois possui características desse tipo de narrativa. A busca de relatar a fauna e flora da nova terra, o sentido universalista que compara o outro com o europeu, o caráter singular da carta, ao estilo de diário de bordo, e as informações que a carta revela são fatores que nos remete a esse estilo literário. Ao relatar o desaparecimento da nau de Vasco de Ataide, podemos perceber um principio do estilo do relato de naufrágios. Percebemos uma característica dramática quando Vaz de Caminha faz referencia ao desaparecimento da nau. “Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau, sem haver tempo forte nem contrário para que tal acontecesse. Fez o capitão suas diligências para o achar, a uma e outra parte, mas não apareceu mais!”

A principio qual seria o principal interesse dos portugueses pela nova terra? A verdadeira intenção de Pedro Álvares Cabral era a chegada na Índia, pois oferecia a Portugal melhores valores de produto, “como as especiarias, os metais preciosos e uma riquíssima rede comercial já estabelecida.” Portugal queria chegar à Índia para concretizar o comercio português naquela região. O documento que torna possível a resposta para essa pergunta pode está no Relato do Piloto Anônimo. Nessa fonte, de autor desconhecido, temos percepções que abordam a viagem de Cabral como um todo e não especificamente a terra dos tupiniquins. Passagens como: “Nessa terra não vimos ferro; faltam-lhes também outros metais. Cortam a madeira com pedras” nos faz entender que o encontro com a nova terra não foi algo extraordinário. O relato faz, também, referencias que assemelha a carta de Pero Vaz de Caminha. Vale destacar que nesse relato temos a citação do nome do capitão que conduzia à armada com 13 navios . Tanto a carta de Pero Vaz de Caminha, quanto à do Mestre João são relatos que faz por diversas vezes referencia ao capitão, porem nunca sendo citado o nome. Somente nessa O Piloto, português, anônimo lembra o nome do capitão; que é o tão famoso, em livros didáticos, Pedro Álvares Cabral.
 
Outro importante documento para a história do Brasil é a chamada Certidão de Valentim Fernandes. Tal como a carta de Pero Vaz de Caminha, esse ato de Fernandes também se refere ao outro indígena sobre o olha europeu. Na fonte de Valentim traz como diversos aspectos, fatores como: o canibalismo – “como carnes assadas ou cozidas (...) e ainda humanas, dos inimigos...” – o pau-brasil e dá, ainda um maior, destaque entre a falta de fé desses povos indígenas... é citado todo um parágrafo sobre isso: "Os habitantes não tem fé nem religião ou idolatria e nenhum outro conhecimento do seu Criador; nem se sujeitam a leis nem a algum domínio, a não ser ao conselho dos velhos.” Vale ressaltar que não somente o descobrimento mais também a primeira expedição é citada na certidão de Valentim Fernandes. O documento também, muito, se assemelha de Pero Vaz de Caminha, por vezes aparece referencia física dos índios e também da natureza da nova terra.

E por fim a Carta do jovem das Caravelas, de autoria também desconhecida. Nessa pequena fonte poucas coisas novas, em relação às outras fontes, têm. É apenas mais uma fonte, curta, que faz referencia direta a viagem de Cabral para a descoberta de novas terras. “Na oitava da Páscoa seguinte, chegou a uma terra novamente descoberta, a qual pôs o nome de Santa Cruz.” Novamente, nessa fonte, os índios são colocados como seres pacíficos e inocentes e que merecem salvação.