quarta-feira, 16 de maio de 2012

“Cadê o historiador na comissão da verdade?”



Hoje, 16 de maio de 2012, a presidente Dilma nomeou os integrantes da “Comissão da verdade”, formada para desnudar a “verdade” dos crimes contra os direitos humanos cometidos pela ditatura militar instaurada em 1964. A comissão é formada por sete indivíduos, que segundo a presidente “é um grupo de cidadãos de reconhecida competência, sensatos e ponderados”, fico realmente em paz ao saber que homens de tão grande reputação, “sensatos e ponderados", estão aptos a dizer a “verdade”, tal como Homero, Hesíodo e Jesus Cristo.

Dentre os sete integrantes cinco possuem formação em direito (Rosa Maria Cardoso da Cunha, José Paulo Cavalcanti Filho, José Carlos Dias, Gilson Dipp, Cláudio Fonteles) somado a esses está Maria Rita Kehl, psicanalista, e o professor aposentado de ciência política, escritor e consultor, Paulo Sérgio de Moraes Sarmento Pinheiro. O que me chamou a atenção foi a ausência de um historiador, talvez por essa ausência a comissão acredite encontrar a “verdade”. Como pesar essa palavra! Como ela fomentou uma série de discursos unilaterais e maniqueístas! Pobre Judas ficou do lado mal da História, pobres milicos morreram abraçados a ele.

Na formação dessa comissão é simples notar a desvalorização do historiador no cenário brasileiro, talvez por querermos sempre uma história inquestionável, uma epopeia de heróis acima de qualquer suspeita. Se quiserem isso, realmente os historiadores não irão produzir. Nosso ofício, tal qual ao de um artesão, é ir tecendo uma série de informações que fomentam a construção narrativa, uma narrativa que não se encerra em si mesma, mas que contribui para o debate e reflexão, tentando fugir ao máximo de uma visão monolítica.
 
Embriagados de uma tradição judaico-cristã nossa sociedade ainda não consegue compreender as múltiplas possibilidades e perspectivas de uma mesma história, tendemos a criar cristos, imolados sem pecado nenhum, o mártir por excelência, e a identificar e caçar demônios que provocam todo o mal. A tradição barroca, ainda intensamente presente na sociedade brasileira, não nos possibilita observar algumas peculiaridades da nossa sociedade, nos perguntamos constantemente o porquê do nosso país não ter dado certo, o porquê dele não ter alçado voo ao lado dos países desenvolvidos, poderíamos deslocar esse questionamento e nos perguntar sobre o porquê do Brasil continuar não dando certo.     

por Lucas Alves



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