quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Somos Políticos e Eleitores

Todos os dias, com profundidade ou superficialmente refletimos sobre a situação política de nosso município. Quando reclamamos, da fila no banco, quando reclamamos da precariedade do atendimento à saúde, da ineficiência da educação disponibilizada, quando falamos da já naturalizada e tão familiar corrupção... Sempre estamos refletindo sobre o modo com que a política atinge nossa vida prática.

Não é preciso ser grande conhecedor dos modos com que opera a política e os políticos, para se colocar a dar a sua opinião, a posicionar sobre isso ou aquilo. A explicação para isso o filósofo já nos oferecia há alguns séculos antes de Cristo, dizendo que o homem é (um ser cívico, naturalmente dado á política). Somos assim, políticos, por aptidão natural, a política se inscreve em tudo que fazemos, inclusive quando tentamos nos afastar das querelas político-partidárias e assim, tão altivos batemos no peito e dizemos: “Não sou político, graças a Deus! Eu detesto política!”.

Ora, não há como negar, Aristóteles tinha alguma razão!O homem é, por natureza, “um animal social e político” (zoon politikon). “Aquele que não precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a ficar com eles, ou é um deus, ou é um bruto (selvagem)”. (Cremonese. 2008.p 130-131)”.

O homem tem a política inscrita em si e ela se traduz em suas ações, norteia e orienta seus anseio, sonhos, e desejos, de modo organizado, em partido, em religião, em artes, etc. em tudo administramos o mundo para dar conta de responder as questões que a vida nos oferece. Desde a questão simples de como colocar pão à mesa? Como arranjar um emprego, qual é a melhor opção para isso ou aquilo? Até questões mais complexas como, quem é o melhor candidato? Como solucionar o problema da educação? Como melhorar a saúde? Etc. Quando se vive em sociedade é ainda mais patente essa força do viés político na vida da pessoa. Assim é muito difícil ao individuo escapar a essa dimensão de sua vida.

Este ano, mais especificamente nestes dois meses (agosto e setembro) as pessoas ver-se-ão enredadas em querelas políticas, seja por vontade própria ou pela imposição dos aparatos eleitorais sempre a veicular suas mensagens, no afã de persuadir de algum modo o eleitor. Desde um som renitente, a uma visita inusitada em horários inoportunos, até programas midiáticos de alta técnica em horários específicos nos meios de comunicação. Por todos os lados e de todos os modos a política no seu sentido partidário, estará imperante a tocar o cidadão oportuna e importunamente. Trata se de ano Eleitoral e a Eleição é mais uma dimensão do universo político.

O homem não é só político é também eleitor. E estas dimensões se imbricam uma na outra. Se por um lado o ser político parece mesmo ser inerente à condição humana, por outro o ser eleitor, não. O ser eleitor depende da filiação eleitoral ao cadastro de eleitores, onde te facultam um título eleitoral, depende da obrigatoriedade do voto, que no Brasil é regente. Então o ser eleitor é condicionado, pode o individuo ser um eleitor em potencial, mas essa dimensão só se realiza sob certas condições.

No período eleitoral, ou seja, nos trimestre que compreende o tempo da eleição, tempo de registrar candidaturas, preparar materiais e propostas e veicula-las para o público, a política se efetiva como prática, com ação comum, visível e irrefutavelmente contagiante. Contagia-nos positivamente e negativamente, dependendo de cada caso e contexto. Mas onde e como anda a nossa consciência politica? Como ser politico e eleitor?

No Brasil nossa dimensão política é negligenciada, preferimos o epiteto de que “política e religião não se discute!” ao trabalho do desenvolvimento intelectual, que permite-nos desenvolver capacidade para analisar e compreender os meandros políticos e partidários que constituem o labor eleitoral.

Estamos em pleno processo eleitoral, e como temos participado desse momento? No sistema de governos que temos em nosso país, que se pretende democrático e de fato temos a melhor democracia que o capital nos permite. O voto é obrigatório, ou seja, o individuo é eleitor por imposição sistêmica. Mas como encaramos isso e como vivenciamos essa realidade?

Votamos, justificamos, participamos... Direta ou indiretamente nossa ação ou inação incide sobre os resultados do processo eleitoral. Mas o comprometimento com que cada um abraça ou refuta sua condição política e eleitoral é o responsável por nossas questões cotidianas e também pelas possibilidades que temos de conseguir responder ou não, as questão básicas da sobrevivência, da vida como um todo.

Hoje em cada município brasileiro, grupos de políticos se apresentam sobre a bandeira partidária, das mais variadas, com propostas e soluções para problemas que não raras vezes são crônicos, perduram desde os dias mais recuados da vida dos municípios. Problemas, como, a falta de emprego, o pouco desenvolvimento municipal, a incapacidade do município de solucionar problemas que agridem e dificulta a vida, como seca, fome, moradia, saúde, educação, segurança, violência etc. Por outro lado está o público, a massa de eleitores, que se posiciona no afã de decidir qual das vozes lhe fala com mais agradabilidade, qual das vozes lhe oferece a melhor proposta e a melhor oportunidade.

Nesse cenário, é complexa a rede de relações que se estabelece. De partido a partido, de liderança a liderança, de bairro a bairro, de liderança a indivíduo, de grupo a grupo. Em cada um desses espaços as relações acontecem de um modo peculiar. Mas todos estão enredados pelo momento eleitoral e muitas vezes perde-se de vista a dimensão política, reduzindo o momento a barganhas e negociatas, que mui pobremente consegue responder a questões momentâneas. Deixando lesões profundas na vida das sociedades, aumentando as diferenças, ressaltando injustiças e promovendo a manutenção de um sistema pernicioso, que só pode ser superado, quando o eleitor for norteado pelo seu ser político. Mas para isso cada eleitor precisaria assumir como sua a tarefa de desenvolver-se como ser político, alimentar a sua dimensão política, nutrindo seu ser político e permitindo que  ele aflore e se mostre, pois assim independente do grau de envolvimento partidário cada individuo estaria capaz de dar eficiência ao seu ser eleitor, por que sua condição básica o ser político, não seria um faminto desfigurado, analfabeto e desnudo, mas sim um bem nutrido ser capaz de ajudar o ser eleitor a cumprir do melhor modo sua função eleitoral.

Como transformar o momento eleitoral num momento de edificação da sociedade em busca de liberdade e bem estar de seus membros e superar essa condição deplorável de feira de interesses particulares e escusos onde a igualdade de cidadania, não existe e se a política é praticada por iguais, é sem dúvida por uma igualdade que faz os agentes políticos aparecerem a todos como algozes da sociedade e não como líderes legítimos que representam e norteiam a sociedade para um caminho de superação, garantindo a cada passo bem estar aos seus membros em toda a sua diversidade.

A teoria do Estado em Hobbes é a seguinte: quando os homens primitivos vivem no estado natural, como animais, eles se jogam uns contra os outros pelo desejo de poder, de riquezas, de propriedades. No estado de natureza existe insegurança; não há lei ou norma, cada um faz o que bem entende. No estado natural o homem goza de liberdade total, tendo todos os direitos e nenhum dever. Sendo, porém, sua natureza egoísta, cada um busca satisfazer os seus próprios instintos, sem nenhuma consideração pelos outros. Segue-se uma luta de uns contra outros, na qual o homem se porta em relação ao outro como um lobo. (Cremonese. 2008. p.130-131).

Ora, o que se vê no ambiente político nacional é um regresso ao estado natural, haja vista que a legislação é ineficiente para conter a fúria dos agentes políticos que as atropelam e burlam, de modo cada dia, mais grotescos e desavergonhados. Sem moralismos ou ressentimentos, mas se há razão no que Dijalma Cremonese argumenta, fica evidente que caminhamos para um estado primitivo onde o homem é o lobo de si mesmo. E esse primitivismo de estado engendra em si o agente politico e o eleitor, pois ambos se posicionam como corruptos e corruptores, corrompem o projeto de uma sociedade livre e democrática, onde cada indivíduo exerce suas faculdades em prol do coletivo, compreendendo sua dimensão individual como parte do coletivo, não em detrimento deste.


Joaquim Teles - Kiko di Faria


Referência 
CREMONESE, Dejalma. Teoria política – Ijuí: Ed. Unijuí, 2008. – 220 p. – (Coleção educação à distância. Série livro-texto).