terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vereador dos sonhos e das angústias

Hoje conforme quis a vida nasceu mais uma figura emblemática, que todos nós agradecemos por conhecê-lo. Entre inúmeras práticas, existe nele o ser político, que simplesmente sonha. Mais não é simplesmente uma imaginação inalcançável, mas um sonho que muitas vezes vem cercado de uma sofisticação e uma humildade que só ele consegue tornar prático.
Eis seu perfil de vereador. Parabéns meu caro Kiko Di Faria.

Impossível não se encantar com as palavras de Joaquim Teles. Mais conhecido como Kiko di Faria, ser vereador é apenas uma dentre as múltiplas atividades a que se dedica. Este grande brasileiro é também escultor, poeta, universitário e até compositor. Kiko, segundo a visão dos muitos amigos que tem, é um cidadão simples, calmo e, ao mesmo tempo, angustiado. Esta última característica, em particular, pode ser notada em algumas de suas ideias e textos, como bem ilustram as próprias palavras do poeta:

O sol impiedoso, cauterizando o mundo, não tira de mim a apocalíptica sensação de desgraça. Um cheiro pestilento de medo, impregna o ar e o universo estático, sem canção... É um lamento só. Uma eternidade de angústia!

Mas não estamos aqui agora para explorar esse lado angustiado, criativo e filosófico, o que também valeria muito a pena. Deixemos isto para um outro capítulo. Interessa-nos, no momento, o cidadão político e sua trajetória. Kiko di Faria, nascido em 1976 no seio de uma família humilde e sem nenhuma tradição política, disputou sua primeira eleição em 2007, onde se tornou vereador. Defensor dos moradores da cidade de São João D’ Aliança, em Goiás, sempre teve muita admiração pelo seu povo. Tanto que sua única obra, Vozes do Cerrado, foi inspirada por histórias e memórias de gente que fez daquela terra o seu lugar. Uma obra atraente que permeia poesia com histórias de fontes orais. Segundo o vereador, esta obra pode ter sido o primeiro passo de sua vida política.

- Escrevi um livro, Vozes do Cerrado, e acabei roubando a cena por alguns minutos. Quer ingrediente mais atrativo para chamar a atenção dos políticos locais? Começaram a me assediar para me filiar a um partido político

Foi justamente por desejar sempre o melhor para o seu povo que o vereador resolveu percorrer as trilhas incertas e desafiadoras e da política e aceitar os assédios recebidos. Uma trajetória não muito fácil. No início de sua primeira campanha, não era visto como um candidato forte por partidos adversários. Mas, uma vez comprometido com sua escolha, Kiko jamais desistiria. Conquistou morador por morador - “Visitei 98 por cento das casas da cidade, pedindo votos e fazendo a campanha” -, e acabou surpreendendo a todos, inclusive a ele mesmo. Como o próprio Kiko costuma dizer, ao lembrar-se dessa época: “O engraçado é que não vislumbrei a possibilidade de me eleger. Vislumbrei o desafio de fazer a campanha, de contestar e ecoar o meu discurso atrevido e ávido de mudança, independente do resultado.” Hoje, no decorrer de sua gestão, Kiko figura entre os mais admirados políticos da região; pelo menos é o que parece. E há quem diga que tenha boas chances de se eleger prefeito, apesar de ser ele o primeiro a se esquivar desta hipótese.

Quem pensa que sua vida como vereador é feita apenas de flores engana-se redondamente. Pelo contrário. Um fato muito lembrado por Kiko, por ocasião de sua campanha, foi o aperto que um cidadão simples como ele teve que passar para tentar obter votos. “Foram momentos difíceis; todos os dias andando a pé, de casa em casa. Falta de tempo até pra comer, pois o dinheiro faz muita diferença na campanha. Você conta com assessoria, contrata cabos eleitorais e faz a coisa acontecer. Mas, quando se é assalariado e ganha-se 510 reais bruto pra sobreviver com uma família de 4 filhas, a situação se complica.” Kiko di Faria compreendia aí que a política não seria algo tão simples.

Mas desistir jamais! Kiko insistiu e, com a mesma raça, que ele faz questão de exaltar, se tornou vereador. Seu slogan mobilizou a atenção de todos, tanto de eleitores quanto de adversários. A frase “porque o sonho ainda é possível” não passaria despercebida. Perguntado sobre o slogan, Kiko foi categórico:

- Kiko, você usou em seu slogan que “o sonho ainda é possível”. Qual era sua intenção com essa frase?

- Vislumbrei que ser vereador é a possibilidade de realização de muitos sonhos, e a mortes de muitos outros também. É, na verdade, a prenhez de inúmeros outros sonhos, que vão sendo gerados ao longo do trajeto. Tudo isso para contextualizar com sua descrição, amparada pelo calor intenso da angústia, da inquietação que impulsiona o sonhador a avançar. Como diria o velho e bom Machado de Assis: “Nem mesmo a ferida começa a cicatrizar, o diabo da esperança já volta a nos aferroar, e lá estamos nós a sonhar novamente.” Por isso, ser vereador; e também por isso, ser sonhador.

Geralmente, quem conversa com Kiko di Faria, ou o entrevista, percebe uma mistura de sofisticação e simplicidade em seu jeito de ser. Impressiona como ele consegue harmonizar tão bem essas duas características. Estamos falando de um sujeito simples por natureza, que consegue fazer dessa simplicidade algo extremamente atraente e refinado em sua expressão. Parece um truque de mágica. Tudo o que ele precisa é de uma opinião formada sobre algo ou alguém. A partir daí, a simplicidade vai dando lugar a um mosaico de ideias requintadas, com vasto conteúdo filosófico, literário ou poético, que, inevitavelmente, apesar de um ou outro viés pessimista, atrairá a atenção de quem o ouve ou de quem o lê.


Uma pequena homenagem, a quem merece muito