quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

MOMENTO SEM HUMOR


WASHINGTON, EUA (AFP) - A eleição do Rio de Janeiro como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 continua repercutindo nos Estados Unidos: segundo o ator e comediante Robin Williams, o Rio ganhou a disputa contra Chicago, Tóquio e Madri porque enviou cocaína e strippers para os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI).


A cidade de Chicago, eliminada logo na primeira rodada da votação, largou em desvantagem, disse Williams em entrevista concedida durante o programa noturno de David Letterman, da CBS.
"Chicago mandou Oprah (Winfrey, popular apresentadora de TV) e Michelle (Obama, primeira-dama dos Estados Unidos). Já o Brasil enviou 50 strippers e meio quilo de cocaína", brincou o irreverente ator, arrancando risadas da plateia.


Robin Williams, 58 anos, nascido em Chicago, é um dos atores mais populares dos Estados Unidos.

CLAUDE LÉVI STRAUSS - Entrevista


A natureza soou o alarme

O francês Claude Lévi-Strauss, hoje com 94 anos, é um dos últimos representantes da espécie renascentista de sábio numa época em que o conhecimento tende a se especializar cada vez mais. Estudou pintura, música, lingüística, filosofia e direito. Dedicou-se à antropologia, pois achava que o estudo do homem reunia todas essas disciplinas. Seu objetivo era descrever padrões de pensamento e comportamento humano comuns a várias culturas. Nos anos 30, enquanto vivia seu período de formação intelectual, Lévi-Strauss lecionou na então recém-fundada Universidade de São Paulo, o que liga umbilicalmente sua biografia ao Brasil. Foi aqui que Lévi-Strauss estudou índios pela primeira vez – e seu deslumbramento com o modo de vida selvagem serviu de inspiração para os ecologistas da fase romântica. Com base em sua experiência brasileira, Lévi-Strauss escreveu uma de suas obras mais conhecidas, Tristes Trópicos. Nesta entrevista a VEJA, de 1983, ele fez um resumo de suas idéias fundamentais.



VEJA – O que as sociedades modernas poderiam aprender com as primitivas?

LÉVI-STRAUSS – Mais do que se imagina. Por mais humildes e modestas que possam parecer, essas sociedades têm um prodigioso conhecimento de seu meio natural. Dificilmente esse meio natural poderá ser desenvolvido sem a incorporação, por parte das sociedades modernas, desse saber.


VEJA – Como isso poderia acontecer?

LÉVI-STRAUSS – Há muitos casos de países, como o Brasil, que tentaram transformar florestas em áreas cultiváveis. Ao final de poucos anos sempre se descobre que não existem mais solos férteis, porque eram justamente as raízes das grandes árvores que garantiam a riqueza das terras. Os índios não fariam uma coisa dessas. Por isso eu acho que, nas regiões em que ainda existem populações indígenas, deveríamos desenvolver uma colaboração com elas – e não atuar contra elas.


VEJA – Na época em que o senhor esteve no Brasil, estiveram no país intelectuais franceses, como o sociólogo Roger Bastide e o poeta Blaise Cendrars. Como era para esse grupo conviver com o ambiente cultural brasileiro?

LÉVI-STRAUSS – A oportunidade de participar da criação da Universidade de São Paulo nos estimulou muito a ir para lá. E naquela época um francês poderia se sentir em casa no Brasil. Todo brasileiro um pouco cultivado falava francês. Havia pessoas de uma vitalidade extraordinária.


VEJA – Quem, por exemplo?

LÉVI-STRAUSS – O professor Paulo Duarte, que continua meu amigo até hoje. Também guardo ótimas lembranças de Mário de Andrade, um dos grandes poetas que conheci. E havia outros, como Oswald de Andrade.


VEJA – Apesar de ter sido um entusiasta da arte moderna na juventude, o senhor foi um dos primeiros a se afastar dela e a denunciar suas deformações. Como se sente na posição de uma das poucas pessoas com prestígio intelectual, em todo o mundo, que não gostam de Pablo Picasso?

LÉVI-STRAUSS – Minha voz não conta para grande coisa. Tenho enorme admiração por Picasso, e não há dúvida de que se tratava de um gênio. Sua capacidade de se exprimir em gêneros tão diferentes e de fazer exatamente o que queria, sem dar importância à opinião dos outros, é algo que merece nossa admiração. Dito isso, creio que ele não era um grande pintor. A genialidade de Picasso consistia em outra coisa.


VEJA – Por que Picasso seria gênio, se não era um grande pintor?

LÉVI-STRAUSS – Ele conseguiu nos dar a ilusão de que ainda fazia pintura, ao se servir, com extraordinária maestria, dos restos da pintura de antigamente. Mas não fazia, na verdade, mais do que uma retórica sobre a pintura. Não era mais uma pintura. Era uma espécie de discurso sobre a pintura do passado.


VEJA – O senhor acredita que a humanidade progride ao longo da história?

LÉVI-STRAUSS – Não acredito que se possa falar em progresso com "P" maiúsculo. Nós não temos nenhum sistema de valores que nos permita dizer que uma escolha é superior a outra. Para mim, seria mais adequado falar em progressos, no plural. Não há dúvida de que em vários domínios – na ciência, por exemplo – um considerável progresso foi realizado.
VEJA 35 Anos / Edição de aniversário