terça-feira, 17 de julho de 2012

O brasileiro e seus heróis

A nossa ultima semana foi marcada por dois acontecimentos que movimentaram as ferramentas midiáticas e as redes de interatividade sociais, causando êxtase e uma diversidade contínua de paradoxos nos mais diversos meios da nossa sociedade. Os tais acontecimentos citados foram a luta do brasileiro Anderson Silva contra o norte-americano Chael Sonnen pelo UFC e o resultado da enquete organizada pela emissora britânica BBC transmitida pelo SBT sobre qual “O maior brasileiro de todos os tempos”.

Em síntese, dentro desses eventos distintos eu averiguei um objeto comum entre os dois, sendo ele a carência que nos brasileiros carregamos em relação à existência e ate mesmo construção de heróis nacionais, de mártires que nos representem e despertem em nós motivo de orgulho e honra em ser brasileiro.

O confronto do brasileiro Anderson Silva contra Chael Sonnen há tempos já gerava grande expectativa em todo público pelas acidas e agressivas provocações do norte-americano contra o brasileiro e contra o Brasil, ao passo que a vitória por nocaute técnico foi interpretada como a defesa da honra nacional e o lutador intitulado como o grande defensor e grande herói. Longe de mim me atrever e ate mesmo ser hipócrita em questionar as qualidades do Anderson Silva como lutador, sem soma de dúvidas o reconheço como o melhor de sua categoria e um dos melhores de todos os tempos, mas o que quero chamar a atenção e em relação aos atributos que o mesmo exerce para ser taxado como “herói”? Primeiramente, o mesmo recebe uma bonificação milionária pra entrar no octógono, e com provocação ou sem provocação do rival ao Brasil ele estará lutando, mas sem dinheiro e sem contrato, não estará. Acredito que apenas uma luta não pode ser um motivo categórico para se taxar um homem como herói nacional, sendo que a maioria dos brasileiros que lhe deram esse titulo não sabem que o mesmo mora em Los Angeles nos Estados Unidos e não em uma cidade brasileira e além de tudo usufrui de todos os artefatos estrangeiros que tem direito. Temos um herói que habita outro país e não sua pátria-mãe? Que projetos sociais, políticos, ecumênicos e econômicos esse herói exerce no Brasil além de lutar por prêmios milionários? Aonde entram os nossos lutadores de todos os dias, como professores, policiais, bombeiros, médicos dentre outros que por ressarcimento financeiro bem menor fazem coisas bem mais relevantes e não são reconhecidos? Essas são algumas interrogações que comprovam a tese do imediatismo, onde simplesmente não importa como foi realizado o ato, mas apenas a relevância que o mesmo gera momentaneamente.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, depois de assistir o programa do SBT "O maior brasileiro de todos os tempos", fiquei alarmado com o quanto a sociedade brasileira não tem conhecimento da própria história, da própria cultura. Dentre os 100 citados no programa (inclusive o Anderson Silva), pessoas que não fizeram projeto social algum e nem buscaram uma repercussão positiva ao Brasil foram votadas! E os alicerces de nossa história que foram esquecidos, mas lutaram como leões pela integridade do Brasil como nação, como unidade, como país? Homens como Tiradentes, primeiro figura a lutar por um regime democrático e federativo no Brasil pagando com a forca e o esquartejamento de seu corpo o preço desse ideal, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, pilares da independência brasileira, José do Patrocínio, grande intercessor pela abolição dos escravos, Visconde de Mauá, grande incentivador da industrialização e primeiro industrial do Brasil, Aleijadinho, figura emblemática e artística da cultura brasileira, Duque de Caxias, patrono do exército brasileiro e grande personagem militar e político; Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, grande elementos da emancipação republicana do Brasil dentre muitos outros personagens de nossa história que minha memória não há de lembrar com exatidão e merecimento nesse momento, onde eles entram, em que patamar figuram? Essa interrogação e algo a se preocupar e a se repensar.

Recapitulando a tese do imediatismo, creio que isso se reflete na sociedade brasileira pelo simples fato de termos uma educação precária em nosso país. Crianças se orientam muito mais pelo que assistem na televisão do que pelo que leem nos livros ou escutam dos professores. Personagens históricos com relevância primordial para o Brasil seja na politica, na economia, na literatura, nas artes, na ciência, na música e em outras vertentes, cada vez mais tem seus nomes e seus legados apagados pela falta de instrução de nossa sociedade. Em contraposto a isso, figuras que surgem do nada e são exploradas pela mídia aparecem com uma repercussão tremenda, sem ao menos se esforçar e fazer algo relevante para o crescimento do país, recebendo representações de “Heróis Nacionais”. Qual a relevância maior que pessoas como Luan Santana, Michel Teló, Joelma do Calipso, Dedé zagueiro do Vasco Gama exerceram para figurarem como mais importantes do que Machado de Assis, Carlos Chagas, Marechal Rondon e Luiz Carlos Prestes? Isso soa como o mesmo que cuspir na cara desses e de outros que lutaram por um Brasil melhor e mais justo.



Em um apanhado geral, nós brasileiros não sabemos definir e julgar nossos heróis, ou simplesmente não temos conhecimento do conceito e significado de herói. Mais difícil ainda é definir um parâmetro que justifique isso. Eu me apego à ausência de uma educação mais incisiva e mais detalhista, com mais conteúdo e mais exploração histórica, outros se apegarão a outros motivos. O fato é que ficam a encargo de nós historiadores, cientistas sociais e demais responsáveis pela educação não deixarmos se apagar no tempo, esse tão ingrato tempo, a chama que ainda está acesa para relembrar nossos verdadeiros e autênticos heróis nacionais.


Leonardo Valadares