sexta-feira, 21 de outubro de 2011

História da América Latina:
Populismo, nacionalismo e desenvolvimentismo

O processo de independência e a intitulação dos países latino-americanos como nações ocasionou no contexto político, social e cultural dos mesmos uma série de novas perspectivas, despertando e colocando em discussão um apanhado de questões voltadas para construção de uma identidade nativa e nacional. “Quatro séculos de transculturação- o processo de trocas culturais- deram origem a uma profusão de diferenças no discurso, nos costumes, nas atitudes. Entrelaçado ao processo de transculturação, o processo de mistura de raças criara populações nacionais igualmente singulares.”

A constituição de um nacionalismo singular no seio dos países latino-americanos caminha paralelamente ao desenvolvimento político e econômico dos mesmos, sendo importante ressaltar que a áurea para a implantação de uma identidade singular e nacionalista se embasava na idéia de que os latino-americanos eram um resultado concreto de uma mistura de raças, provenientes do contato direto entre europeus, indígenas e africanos, ao passo que qualquer singularidade nacional que se levantasse na América Latina carregaria um caráter hibrido na sua composição.

No Uruguai, podemos observar que o nacionalismo se constituiu através da influência e representação da figura de José Batlle y Ordonez, líder populista e presidente do país de 1903 a 1915. Através de uma política expansionista e de modernização econômica que se embasou principalmente no preceito de planejar o estado contra o “imperialismo econômico estrangeiro” , o Batllismo se destacou por influir no contexto político uruguaio um nacionalismo cívico e econômico, conquistando um apoio contínuo das classes trabalhadoras e médias, demonstrando uma preocupação considerável com as camadas populares promovendo melhorias nas condições de trabalho, educação, infra-estrutura e nos demais seguimentos sociais. No âmbito econômico, o governo uruguaio instalou um programa de envolvimento total na economia, estatizando as principais indústrias e ferramentas estruturais (bancos, ferrovias, portos, frigoríficos) e mantendo sobre controle todo o monopólio de exportações comerciais. Batlle transformou o Uruguai em um estado de constante processo de modernização alinhado a uma corrente de identidade nacional, despertando nos uruguaios um sentimento totalmente nativista e local, excluindo as influências externas e colonialistas que preponderavam.

Na Argentina, outro líder populista se levantou contra as oligarquias de proprietários rurais que dominavam o país através de uma eleição, colocando em prática um regime político mais democrático e voltado para a causa nacionalista. Hipólito Yrigoyen governou a Argentina por dois mandatos, de 1916 a 1922 e de 1928 a 1930, apoiado sempre pela União Cívica Radical que era formada pela classe média e classe trabalhadora, se transformando posteriormente no “primeiro partido político de massa da história da América Latina.”

Em contraposto ao Uruguai, a política reformista nacionalista argentina no patamar econômico não foi tão intensa quanto à uruguaia, sendo que o papel e a influência estrangeira dentro da Argentina continuaram intactos. No parâmetro político e social, houve sim mudanças bastante gradativas, principalmente através da representação da figura do presidente Yrigoyen, que devido aos seus altos índices de popularidade se apresentava como um integrante do povo, adotando uma postura de reformas políticas voltadas para as limitações sociais.

Nos governos de Juan Perón, de 1946 a 1955 e posteriormente de 1973 a 1974, a causa nacionalista se fortificou, sendo que Perón se amparava no apoio recebido da Igreja Católica, do exército e do movimento sindical. Seu governo se destacou por promover a centralização do poder nas mãos do estado, garantindo também melhorias para a classe operária e as classes mais desfavorecidas, podendo seu governo ser encarado como detentor de um caráter paternalista e extremamente autoritário, mas idolatrado pelo povo.

Os conceitos de nacionalismo, populismo e desenvolvimentismo interpretados na Argentina ou Uruguai ou em qualquer um dos países latino americanos, estão diretamente interligados. As vertentes de uma cultura extremamente nacionalista se constituem a parti do pressuposto que o populismo e o desenvolvimentismo são as colunas para a construção de um estado nacionalista, ou em outras palavras, o povo e o progresso e que originam uma identidade nacional. A industrialização, a assimilação dos imigrantes dentro do estado como nação, à construção geográfica e ideológica pós independência, o surgimento de líderes carismáticos a nível nacional dentre outros são fatores que podem ser embasados dentro desses três conceitos. O povo, o desenvolvimento e o espírito nacional singular estão entrelaçados numa espécie de cadeia alimentar, de forma que um se posiciona como válvula de escape para o funcionamento do outro.

 
LEONARDO REIS VALADARES
(seja bem-vindo)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O caso da publicidade Hope
Qual o limite da liberdade publicitária?

Hpé

O caso é o seguinte: a propaganda que pode ser vista no vídeo acima, tem trazido já alguns dias debates sobre a liberdade da mídia brasileira. A campanha feita pela marca de lingerie Hope, traz em vários vídeos a modelo brasileira Gisele Bündchen ensinando as formas corretas de contar uma noticia ruim para o marido. Sendo que a forma correta, indicada pelo comercial é quando a modelo a parece somente de roupas intimas. Diante de tal situação A Secretaria – da Presidência da Republica – de Políticas para Mulheres (SPM) discordou do conteúdo transmitido pela propaganda, afirmando que tal publicidade, “promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas.”

Alguns têm chamado essa posição do governo como moralismo político, outros dizem que é resquícios do governo Lula que “sempre teve as pretensões de censurar a imprensa e a mídia,” outros afirmam se trata apenas de um comercial entre tantos outros com conteúdos parecidos. Entre esses comentários, gostaria de estabelecer outros sobre o mesmo assunto. Antes de tudo devemos considerar que esse debate sobre as conseqüências causadas pela publicidade da Hope, embora possa parecer trivial, é um debate que busca alcançar outros assuntos teóricos que contextualiza o estudo da mídia.

A mídia tem um importante papel na sociedade, ou deveria ter. Ela está presente em nosso dia-a-dia, promove representações e discursos, trata-se do quarto poder como alguns teóricos gostam de afirmar. "Nosso mídia é onipresente, diária, uma dimensão essencial de nossa experiência contemporânea. É impossível escapar à presença, à representação da mídia." (Silverstone, 1999)  Nesse sentindo, embora possa parecer utópico cabe a mídia de forma geral ter um papel com a sociedade, ter uma função em orientar os discursos da sociedade até a própria ética social deve ser influenciada pela mídia. A propaganda da marca Hope, como em muitas outras publicidades, utiliza do instrumento da brincadeira, onde impera o faz de conta, saímos da seriedade para nos aproximar de uma realidade outra. No entanto essa brincadeira, como em qualquer outra, deve ter seu começo, meio e fim. Deve ter como seu limite a vida real, a seriedade. Por isso a pergunta: qual seria o fim das brincadeiras publicitárias?

Ao que parece não há um fim nelas, pois logo depois estamos diante de outra campanha publicitária brincalhona. O fim dessas brincadeiras, presente na publicidade da Hope, é quando entra em cena a seriedade, o mundo real, quanto Willian Bonner ler uma notícia dizendo que o número de violência entre as mulheres tem aumentado. Diante dos fatos onde entra o papel importante da mídia em conscientizar a sociedade? Nessas publicidades o papel da mídia está em apenas vender o produto. Espera-se que o público se sinta a vontade com aquela campanha e se sinta identificado com o que é mostrado.


Enquanto isso as tentativas do governo em limitar esses discursos da publicidade, deverá ser uma reflexão de cada pessoa que está diante dessa postagem. Mas em relação a esse assunto A Secretária de Política para Mulheres tem se sustentado suas criticas baseado nos seguintes artigos presentes no Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária:


Artigo 19

Toda atividade publicitária deve caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, à intimidade, ao interesse social, às instituições e símbolos nacionais, às autoridades constituídas e ao núcleo familiar;

Artigo 20

Nenhum anúncio deve favorecer ou estimular qualquer espécie de ofensa ou discriminação racial, social, política, religiosa ou de nacionalidade;

Artigo 21

Os anúncios não devem conter nada que possa induzir a atividades criminosas ou ilegais – ou que pareça favorecer, enaltecer ou estimular tais atividades;

Artigo 30 – A Medida Liminar é cabível quando:

(...)

II – A infração ética configurar flagrante abuso da liberdade de expressão comercial, ou provocar clamor social capaz de desabonar a ética da atividade publicitária, ou possa implicar grave risco ou prejuízo do consumidor