terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O fato é como um saco, não ficará de pé até que se ponha algo dentro

Caro leitor, você acredita que a história pode explicar o que aconteceu no passado? Pensa que o historiador é um capacho das fontes? E mais, acredita ainda que a história é uma ciência? Se para todas as perguntas sua resposta foi: Sim. Então não deixe de ler esse artigo, ele foi feito para você!

O historiador como sabemos, procura explicar o que aconteceu no passado apresentando uma reconstrução dos acontecimentos em forma de narrativa. Em outras palavras, um texto. O que valida essa narrativa do historiador, são as fontes, ou os registros dos acontecimentos passados.

Ao que parece, a fonte tem um papel essencial para uma possível explicação acerca do passado. Será? Suponhamos que ao estudar a revolução de 1848, as únicas fontes disponíveis sobre o tema fossem: As lembranças de Tocqueville e O 18º Brumário de Marx (obras escritas depois da revolução.)          Essas fontes autorizariam escrever sobre a revolução. Correto? Errado, a fonte nunca consegue abarcar todo o acontecimento, ela é naturalmente incompleta, carrega um único ponto de vista,testemunho em meio a complexidade de testemunhos que foi, nesse caso,perdida Edward Carr afirmou que:


“Nenhum documento pode nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava - o que ele pensava que havia acontecido, o que devia acontecer ou o que aconteceria, ou talvez apenas o que ele queria que os outros pensassem que ele pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio pensava pensar. Nada disso significa alguma coisa, até que o historiador trabalhe sobre esse material e decifre-o.”

Como Carr afirmou, trabalhamos e muito aliás para que as fontes possam nos revelar alguma coisa, ou nada. Ao menos podemos ter certeza de que os acontecimentos passados não nos chegam “puros” mas com interpretações daquele que o registrou. Portanto, ficam as dúvidas : Será que fazemos uma interpretação da interpretação(fontes)? E a objetividade da História? Wie es eigentlich gewesen?Não sei como...

Mas se o caso fosse o oposto e  houvesse um numero ilimitado de fontes?Ah, então deveríamos excluir as fontes que não são importante para a pesquisa? Se assim o é, concordo com  E. Carr: “ Os fatos históricos são aqueles que têm alguma importância para a pesquisa a qual o historiador se propôs”.

Bem, então posso concluir caro leitor, que a história explica mais sobre como nós olhamos o passado partindo de um problema daqui do presente, do que o passado per si. Nós que SELECIONAMOS o que será um fato histórico ou não. Por mais que tentamos explicar o passado, explicamos somente o desenvolvimento da trama em nossa narrativa. Talvez por isso há vários tipos de história como sobre a  revolução francesa por exemplo, que já foi narrada de n formas. Ao que Hayden White chama de “Estrutura de enredo pré-genérica” ou o modo particular de cada historiador narrar os acontecimentos.

Dedico esse artigo a colega Lilian Chaves Maluf .

            E você leitor, gostou? Achou um lixo? Tem sugestões? Dúvidas? Não vacila, comente!


Otávio Marques 


Referencia bibliográfica:
 CARR, Edward. O historiador e seus fatos. In: Que é história? Rio de Janeiro: Paz e terra 1998.p 49-65
 WHITE,Hayden. A interpretação na História. In: Trópicos do discurso.São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. 

Um comentário:

  1. Outro belo texto viu meu caro Otávio.

    Diante deste ano intenso estamos nós propostos a responder algumas perguntas? Parece que essa fase das respostas, ou das quase respostas (satisfatória pelo menos), vai chegar no decorrer dos dias e meses se passando. Em fim tenho dúvidas sobre afinal de contas qual é esse trabalho em decifrar determinada fonte do historiador? Que tipo de rigor é esse e quanto posto em determinado período atual, como fica as faltas de respostas que o acaso pode provocar?

    PARABÉNS NOVAMENTE!

    ResponderExcluir