terça-feira, 8 de junho de 2010

Histórias de um Brasil inventado

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Adentrar o universo das viagens portuguesas, por meio dos relatos de naufrágios, ou antes deles, por meio de um olhar panorâmico através da realidade portuguesa no virar do século XIV e principiar do século XV, mostra se um exercício angustiante, se fundamentado numa expectativa de resignificação desse capítulo da história mundial.

Para quem está arraigado na tradição didática secularmente difusa de uma empresa portuguesa marcada pela genialidade desbravante e o ideal colonizador e redentor de terras longínquas, privadas da salvação cristã lusitana, que sempre vendeu a ideia de um projeto português fundado na capacidade naval e no brilhantísmo de um projeto que teria sido elaborado minuciosamente, para resgatar a gloria portuguesa. O que mais angustia nas leituras dos relatos de naufrágios e em textos como "para começo de conversa e os argonautas" é a crise de orientação que eles permitem causar e atuando com uma dinâmica dúbia, tanto fundamenta esse olhar tradicionalmente difuso, como o contesta. o fundamenta de certo modo, quando se debruça sobre o viés religioso das expedições descobrimentistas e/ou achistas,já que o português como imagem e semelhança do criador, como cristão, tem o indelével dever de salvar as "nações" levando a elas, a "boa nova", assim percebe-se um projeto, que brota não da genialidade portuguesa, mas das prerrogativas cristãs, habilmente incorporadas pelos clérigos, mas não apenas isso, soma se a toda essa missão salvívica, o ideal expansionista o desejo de riquezas, a violência etc. E contesta-se a visão tradicional, numa especie de anedota, o próprio tecer dos fatos, como os relatos mostram com evidencias; na precariedade das embarcações mau calafetadas etc,no subverter das posições de poder nos momentos de crise, no desvalorar da vida,(tanto dos povos descobertos ou achados) como dos próprios coevos, que partilhavam as aventuras expedicionárias, em momentos de naufrágios.

Não se pode ingenuamente repudiar uma concepção e adotar a outra, numa visão de que tudo sucedeu ao sabor dos acontecimentos. Parece ser mais prudente conceber que tanto a existência de um projeto português quanto a imprevisibilidade dos eventos são realidades indissociáveis de uma ação que continua atraindo olhares e leitores para apreender lições e significados da capacidade humana de se reinventar em momentos de crise. Como foi o exemplo português, que busca com todas as suas forças, nas empresas expedicionárias, com toda a sua multiplicidade de vieses, evocar os seus dias gloriosos e assim responder as insatisfações e necessidades do presente, Percebe-se assim não um gênio português, mas um moribundo, que precisa se reinventar de algum modo para não sucumbir ao silencio do esquecimento.



Referencias bibliográficas


COELHO, Antonio Borges.'Os argonautas portugueses e o seu velo de ouro'.in TENGARRINHA, José(Org.), História de Portugal. São PAulo: EDUSC/Unesp,2001.pp.87-105.


ALMEIDA, Antonio Augusto Marques de. 'Saberes e práticas de ciência no Portugual dos descobrimentos', In TENGARRINHA, José (Org.), Histoprias de Portugal. São Paulo/Unesp,2001.pp.107-116.


FAORO,Raymundo. 'A revolução portuguesa'. In Os donos do poder: formação do patronato politico brasileiro. Porto Alegre: Globo,1958.pp.43-87.

2 comentários:

  1. QUEM LE SABE POR QUE FOI TOTALMENTE MERECIDO A NOTA...

    PARABÉNS KIKO ...
    essa ai vc cada vez mais se superando

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  2. Aqui são palavras de quem sabe o que faz... De quem faz o que sabe. Não apenas mãos talentosas de um simples e modesto artesão, mas também pensamento de um poeta e futuro historiador que deixará gravada a sua história. Não será por devaneios alheios que se deverá deixar a "peteca" cair. Aliás, prefiro a comentários e relatos mais dramáticos, fantasiados, enfeitados e poetizados, do que a rigidez do que é pelo que é, sem molejo, sem vida, sem graça!

    Viva este nosso poeta-historiador aqui mesmo do nosso cerradão goiano!

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