quinta-feira, 17 de junho de 2010

História e Música

Um olhar sobre a produção musical de Heitor Villa lobos no cenário cultural do modernismo brasileiro.

Entre as décadas de 1920 e 1930 formou-se um grande conflito estético e ideológico com relações ao movimento modernista formado por artistas e escritores como, Anita Malfatti, Mario de Andrade, Tarsila do Amaral entre outros. Essa elite cultural e econômica almejava que a sociedade tivesse uma percepção da nacionalidade brasileira por meio da produção cultural nacional,como por exemplo, a polêmica exposição da semana de arte 1922 em São Paulo.



“A semana é um marco na história do Brasil como também na historiografia da música, principalmente pela projeção que deu Heitor Villa-Lobos e pelo impacto que teve em sua careira, o único a sair ileso das criticas. A música de Villa carrega elementos da cultura nacional,como exemplo a música popular carioca,o choro e o samba alem de elementos das músicas regionais, como a caipira e os cânticos das tribos indígenas do amazonas que confrontam com a cultura musical romântica da época. A partir dessas afirmações iremos compreender como a cultura daquela época, a estrutura econômica,política e social, pode modificar uma obra de arte e ainda transformá-la em uma mercadoria.Esse estudo se mostra importante para quem deseja estudar música na História, uma vez que revela os fatores que podem modificar o processo de composição da música como também dos hábitos da sociedade.

Segundo Michel de Certeau,ao estudar a história cultural da música,o pesquisador depara-se com um objeto que carrega em seu bojo um caráter dinâmico,encontra-se distante no tempo, construído a partir de uma diacronia, que implica na impossibilidade de reconstruir a existência cultural dos agentes que fizeram parte da criação da musica .Então se faz necessário para compreensão das apropriações, conhecer o contexto histórico na qual a música se manifestou, as bases sociológicas da criação musical, os agentes difusores da música que formam o gosto popular, assim como criticas de álbuns e shows em jornais, além de relatórios e materiais promocionais de gravadoras e produtores de espetáculos. Todas essas fontes permitem entender melhor o panorama musical, sobretudo neste caso, a música de Villa na semana de arte moderna, uma vez que teve maior relevância e difusão em sociedade.

Alguns conceitos como recepção cultural e industria cultural, são pertinentes nesse tipo de pesquisa, não industria no termo literal de referir-se a modos de produção, divisão do trabalho e máquinas, mas ao processo de racionalização das técnicas de distribuição das mercadorias culturais que devem ser absorvidas pela sociedade.Segundo Adorno a autonomia das obras de arte nunca existiu de forma pura, sempre foi marcada com as conexões de efeito, para ele as mercadorias culturais orientam-se a principio de sua comercialização e não segundo se próprio conteúdo e figuração.Então com aceitar uma música carregada de elementos nacionais e populares como a de Villa em meio a uma preferência dos ouvintes do gênero “erudito” a estilos dançantes como o foxtrot,swing e tango imposto pela industria cultural?

O melhor caminho para responder a essa pergunta é entender o significado da música de Villa para os ouvintes, entender os códigos daquela cultura e por sua vez ir adquirindo as representações do passado sobre o objeto. Clifford Geertz adverte que a análise é escolher entre as estruturas de significação. Assim compreendendo o conjunto de preceitos que moldaram a sensibilidade dos presentes na semana de arte, entenderemos o choque cultural entre a música e o ouvinte.


Por Otavio Marques
(seja bem-vindo)

3 comentários:

  1. É SEM DÚVIDA UM GRANDE PROJETO.....

    VILA LOBOS .... É HISTORIA EM FORMA DE MUSCIA OU SEIRA MUSICA EM FORMA DE HISTÓRIA

    OBRIGADO OTAVIO PELO POST. (É RICO)

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  2. Carambah! O cara é ousado pra valer.
    Um projeto complexo pra mim que não detenho conhecimento musical ou de história da musica, embora adore musica. Mas só de ler e perceber as inquietações que o projeto procura orientar e as novas iquietações que ele vai despertando a cada parágrafo, faz notável que será uma obra bem confeccionada, que exige muito gosto pela matéria abordada, coisa que o autor( grande colega Otávio), tem de sobra sem dúvida. Que bom que postastes essa matéria, estamos mesmo precisando de musicalidade pra embalar nossa alucinada verborragia historiográfica.
    Bem vindo camarada Otávio, bela matéria, gosto da idéia de debater signos da cultura musical e a indústria cultural como agente formatador e editor do que será difundido e veiculado para a grande massa, e acho mesmo que o diálogo com Gueertz pode inclusive ajudar-nos a perceber o viés legitimante de uma determinada camada cultural que tudo isso traz. Vai dizer que o reboleichom não carrega uma infinidade de signos da cultura lá da localidade onde ela surgiu... Ou a musica "sertaneja" que tá aí longe das raizes caipiras e um tanto urbanoide com roupagem sertaneja, por mais que tenha um viés de imposição industrial, não representa a diversidade cultural do sertão brasileiro???? Isso dá um bom debate, sobretudo pra virtuoses da música, assim como você. Parabens!!!

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  3. Valeu Joaquim!,
    Suas palavras são animadoras!fico muito feliz de ter conseguido passar alguma coisa adiante,espero que essas simples palavras acima,possam fomentar diálogos similares.

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