Giovanni
Arrighi constata na introdução de seu livro “O longo século XX: dinheiro, poder
e as origens de nosso tempo” que após a crise econômica da década de 1970,
fixou-se na mentalidade ocidental a ideia de que “a história do capitalismo
talvez esteja num momento decisivo”[1].
Mesmo com o fim da URSS e a queda do muro de Berlim, Karl Marx voltou a fazer
parte da cabeceira daqueles que procuram entender o capitalismo e suas
contradições. A crise economica de 2008 fomentou ainda mais os debates acerca
das contradições e fragilidades do sistema capitalista, sendo fomentado por
várias teorias economicas,constatando que o capitalismo (que na maioria delas
possui fases cíclicas) esteja vivendo um período de decandência. Seria o
capitalismo capaz de mais uma vez se adaptar? Quais seriam as consequências do
colapso e fim do modo de produção capitalista? Em fim, Marx estaria correto em
suas previsões? Tais questões estão na ordem do dia, ocupando não só
intelectuais preocupados com o tema, alcançando também uma parcela
significativa da população cada vez mais esclarecida.
Os
efeitos da globalização expõem várias nações a qualquer colapso do sistema
capitalista. Uns mais outros menos, todos estariam expostos e sofreriam com os
problemas do sistema, nem que seja uma “marolinha” como o ex-presidente Lula se
referia aosefeitos da crise econômica de 2008 no Brasil.
Após
os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, as atividades econômicas nos
Estados Unidos passaram por algumas dificuldades, no que diz respeito ao
consumo. Para compreendermos algumas questões economicas não podemos perder de
vista os fatores culturais, sociais e políticos. Os ataques às torres gêmeas
provocaram grande temor na população, uma espécie de “terror coletivo”, que
refletiu diretamente no consumo, abalando a dinâmica capitalista. Para que o
consumo pudesse voltar à “normalidade” o Estado norte-americano promoveu ações com
o objetivo de “aquecer a econômia”, incentivou o consumo, baixando as taxas de
juros. O mercado financeiro em resposta às decisões tomadas pelo banco central
norte-americano abriu multiplas linhas de crédito, principalmente no setor
imobiliário, aumentando o poder de compra, até mesmo do grupo conhecido por subprime. Este é formado por pessoas
inadiplentes que possuem hisórico de não honrar seus respectivos compromissos
financeiros. Os bancos que forneceram crédito a esse grupo, com o temor de ter
que arcar com uma possível inadimplência, passaram a vender titulos com o intuito
de adiantar o pagamento. Tal fato reduziu a liquidez das transações, além de
provocar grande risco financeiro: caso os subprimenão
honrem suas dívidas um grande grupo de investidores sofreria com as
consequências, como esses investimentos ocorrem em escala global(reflexo da globalização,
e de uma economia cada vez mais integrada) vários investidores importantes em
seus respectivos países sofreriam as consequências. E foi o que aconteceu.
Por
volta dos anos de 2003 e 2004 o consumo americano voltou a “normalidade” e o
Estado voltou a aumentar a taxa básica de juros. Com isso a dívida contraída
pelos subprime aumentou
significativamente da noite para o dia, provocando assim, a inadimplência desse
grupo que já não tinha uma reputação muito boa. Tal fato ficou conhecido como
“bolha imobiliária”, e provocou a quebra de grandes bancos europeus e
norte-americanos. Wall Street sofreu sucessivas quedas e nem mesmo o centenário
banco norte-americano Lehman Brothers foi poupado dos efeitos da crise.
Considerado
o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers
mantinha sedes em Nova Iorque, Tóquio e Londres. Fundado ainda no século XIX
por três judeus vindos da Alemanha, o centenário banco não resistiu aos efeitos
da crise financeira de 2008, e com ele vários bancos e empresas espalhados pelo
mundo passaram por grandes dificuldades. Lehamn Brothers trabalha com compra e
venda de ações, fazendo negócios e fornecendo créditos a grandes empresas e
bancos espalhados pelo mundo, além de atuar com grande força no mercado
imobiliário, investindo com vigor em titulos ligados ao mercado imobiliário
para pessoas consideradas de alto risco de inadimplência. Na primeira semana de
setembro de 2008 o banco perdeu mais de 77% de seu valor, sinalizando as
dificuldades que teria para permanecer atuante. Antes dele, no mesmo ano de
2008, outros dois bancos de grande importância nos Estados Unidos foram
comprados ou declararam falência: o Bear Stearns e o Merrill Lynch. Em setembro
de 2008, não resistindo aos abalos financeiros provocados pela crise, pediu
concordata[2].
Diante
dos problemas imobiliários causado pela crise do sistema capitalista houve
vários movimentos de caráter social. Um desses movimentos foi a invasão de Wall
Sreet. O movimento Occupy Wall Street se tornou o acontecimento político mais
importante nos Estados Unidos desde as rebeliões ocorridas em 1968. A crise
econômica, a instatisfação com alguns grupos da elite, a presença de soldados
norte-americanos em outros países, mesmo diante de uma intensa crise econômica,
são fatores que contribuem para explicar a insatisfação desse grupo de
manifestantes. As autoridades acreditavam que o movimento não causaria muitos
problemas e, num primeiro momento, repreendeu os manifestantes com violência. O
Estado não contava com a divulgação das imagens na imprensa internacional, a
internet foi um intrumento que favoreceu bastante a organização e difusão do
movimento. Universitários aderiram à causa, e o “ataque a Wall Street”
conseguia cada vez mais legitimidade.
O
jornal de New York Times elaborou um
editorial mostrando que os manifestantes estavam passando uma mensagem clara,
dotada de preceitos políticos especificos, ou seja, que não eram apenas jovens
revoltados. Um dos argumentos do grupo, que esteve estampado no editorial do
jornal, é a de “que a desigualdade extrema é a marca de uma economia
disfuncional, dominada por um setor financeiro guiado pela especulação, trapaça
e amparo governamental”[3]. O
movimento é representativo para compreendermos as transformações que vêm
sofrendo a economia capitalista nos últimos anos.
Mediante
as considerações apresentadas, podemos tirar algumas conclusões sobre a crise
econômica de 2008. Em primeiro lugar, é nítido o protagonismo que ela ocupa no
cenário internacional contemporâneo, causando vários temores, expectativas e
opiniões diversas. Em segundo lugar, podemos perceber que um dos principais
fatores que contribuíram para o desencadeamentoda crise
foi a intervenção desastrosa do Estado na economia. Ao tentar aquecer o mercado
e incentivar o consumo após os atentados de 11 de setembro, o Estado
norte-americano acabou por dar o primeiro passo em direção a crise, emseguida,
em meados de 2003-2004, ao aumentar a taxa básica de juros, a crise ficou quase
como certa. Tal constatação nos conduz à velha questão acerca da intervenção do
Estado na economia. Até que ponto o modelo Keynesiano é valido no sistema
capitalista contemporâneo? É uma questão que se encontra novamente na ordem do
dia. Por fim, podemos perceber que os Estados têm tentado diminuir os efeitos
da crise, injetando quantias bilionárias nos maiores bancos do mundo, almejando
aumentar a liquidez. No entanto, a descentralização de inumeras quantias do
dinheiro público provoca mal-estar nas relações políticas de vários Estados, distanciando
ainda mais a resolução dos problemas econômicos.
por Lucas Alves
[1]
ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: Dinheiro, poder e as origens do nosso
tempo. 3° reimpressão. Ed. UNESP. Pp. 1.
[2]
Informações encontradas no site - http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u444893.shtml.
[3]
Disponivel em http://www.outraspalavras.net/2011/10/25/occupy-wall-street-quatro-etapas-e-um-desafio/
acesso em 12 de junho de 2012.
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