terça-feira, 19 de junho de 2012

Considerações acerca da crise econômica de 2008


Giovanni Arrighi constata na introdução de seu livro “O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo” que após a crise econômica da década de 1970, fixou-se na mentalidade ocidental a ideia de que “a história do capitalismo talvez esteja num momento decisivo”[1]. Mesmo com o fim da URSS e a queda do muro de Berlim, Karl Marx voltou a fazer parte da cabeceira daqueles que procuram entender o capitalismo e suas contradições. A crise economica de 2008 fomentou ainda mais os debates acerca das contradições e fragilidades do sistema capitalista, sendo fomentado por várias teorias economicas,constatando que o capitalismo (que na maioria delas possui fases cíclicas) esteja vivendo um período de decandência. Seria o capitalismo capaz de mais uma vez se adaptar? Quais seriam as consequências do colapso e fim do modo de produção capitalista? Em fim, Marx estaria correto em suas previsões? Tais questões estão na ordem do dia, ocupando não só intelectuais preocupados com o tema, alcançando também uma parcela significativa da população cada vez mais esclarecida.

Os efeitos da globalização expõem várias nações a qualquer colapso do sistema capitalista. Uns mais outros menos, todos estariam expostos e sofreriam com os problemas do sistema, nem que seja uma     “marolinha” como o ex-presidente Lula se referia aosefeitos da crise econômica de 2008 no Brasil.

Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, as atividades econômicas nos Estados Unidos passaram por algumas dificuldades, no que diz respeito ao consumo. Para compreendermos algumas questões economicas não podemos perder de vista os fatores culturais, sociais e políticos. Os ataques às torres gêmeas provocaram grande temor na população, uma espécie de “terror coletivo”, que refletiu diretamente no consumo, abalando a dinâmica capitalista. Para que o consumo pudesse voltar à “normalidade” o Estado norte-americano promoveu ações com o objetivo de “aquecer a econômia”, incentivou o consumo, baixando as taxas de juros. O mercado financeiro em resposta às decisões tomadas pelo banco central norte-americano abriu multiplas linhas de crédito, principalmente no setor imobiliário, aumentando o poder de compra, até mesmo do grupo conhecido por subprime. Este é formado por pessoas inadiplentes que possuem hisórico de não honrar seus respectivos compromissos financeiros. Os bancos que forneceram crédito a esse grupo, com o temor de ter que arcar com uma possível inadimplência, passaram a vender titulos com o intuito de adiantar o pagamento. Tal fato reduziu a liquidez das transações, além de provocar grande risco financeiro: caso os subprimenão honrem suas dívidas um grande grupo de investidores sofreria com as consequências, como esses investimentos ocorrem em escala global(reflexo da globalização, e de uma economia cada vez mais integrada) vários investidores importantes em seus respectivos países sofreriam as consequências. E foi o que aconteceu. 


Por volta dos anos de 2003 e 2004 o consumo americano voltou a “normalidade” e o Estado voltou a aumentar a taxa básica de juros. Com isso a dívida contraída pelos subprime aumentou significativamente da noite para o dia, provocando assim, a inadimplência desse grupo que já não tinha uma reputação muito boa. Tal fato ficou conhecido como “bolha imobiliária”, e provocou a quebra de grandes bancos europeus e norte-americanos. Wall Street sofreu sucessivas quedas e nem mesmo o centenário banco norte-americano Lehman Brothers foi poupado dos efeitos da crise. 

Considerado o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers mantinha sedes em Nova Iorque, Tóquio e Londres. Fundado ainda no século XIX por três judeus vindos da Alemanha, o centenário banco não resistiu aos efeitos da crise financeira de 2008, e com ele vários bancos e empresas espalhados pelo mundo passaram por grandes dificuldades. Lehamn Brothers trabalha com compra e venda de ações, fazendo negócios e fornecendo créditos a grandes empresas e bancos espalhados pelo mundo, além de atuar com grande força no mercado imobiliário, investindo com vigor em titulos ligados ao mercado imobiliário para pessoas consideradas de alto risco de inadimplência. Na primeira semana de setembro de 2008 o banco perdeu mais de 77% de seu valor, sinalizando as dificuldades que teria para permanecer atuante. Antes dele, no mesmo ano de 2008, outros dois bancos de grande importância nos Estados Unidos foram comprados ou declararam falência: o Bear Stearns e o Merrill Lynch. Em setembro de 2008, não resistindo aos abalos financeiros provocados pela crise, pediu concordata[2].

Diante dos problemas imobiliários causado pela crise do sistema capitalista houve vários movimentos de caráter social. Um desses movimentos foi a invasão de Wall Sreet.  O movimento Occupy Wall Street se tornou o acontecimento político mais importante nos Estados Unidos desde as rebeliões ocorridas em 1968. A crise econômica, a instatisfação com alguns grupos da elite, a presença de soldados norte-americanos em outros países, mesmo diante de uma intensa crise econômica, são fatores que contribuem para explicar a insatisfação desse grupo de manifestantes. As autoridades acreditavam que o movimento não causaria muitos problemas e, num primeiro momento, repreendeu os manifestantes com violência. O Estado não contava com a divulgação das imagens na imprensa internacional, a internet foi um intrumento que favoreceu bastante a organização e difusão do movimento. Universitários aderiram à causa, e o “ataque a Wall Street” conseguia cada vez mais legitimidade.

O jornal de New York Times elaborou um editorial mostrando que os manifestantes estavam passando uma mensagem clara, dotada de preceitos políticos especificos, ou seja, que não eram apenas jovens revoltados. Um dos argumentos do grupo, que esteve estampado no editorial do jornal, é a de “que a desigualdade extrema é a marca de uma economia disfuncional, dominada por um setor financeiro guiado pela especulação, trapaça e amparo governamental”[3]. O movimento é representativo para compreendermos as transformações que vêm sofrendo a economia capitalista nos últimos anos.

Mediante as considerações apresentadas, podemos tirar algumas conclusões sobre a crise econômica de 2008. Em primeiro lugar, é nítido o protagonismo que ela ocupa no cenário internacional contemporâneo, causando vários temores, expectativas e opiniões diversas. Em segundo lugar, podemos perceber que um dos principais fatores que contribuíram para o desencadeamentoda crise foi a intervenção desastrosa do Estado na economia. Ao tentar aquecer o mercado e incentivar o consumo após os atentados de 11 de setembro, o Estado norte-americano acabou por dar o primeiro passo em direção a crise, emseguida, em meados de 2003-2004, ao aumentar a taxa básica de juros, a crise ficou quase como certa. Tal constatação nos conduz à velha questão acerca da intervenção do Estado na economia. Até que ponto o modelo Keynesiano é valido no sistema capitalista contemporâneo? É uma questão que se encontra novamente na ordem do dia. Por fim, podemos perceber que os Estados têm tentado diminuir os efeitos da crise, injetando quantias bilionárias nos maiores bancos do mundo, almejando aumentar a liquidez. No entanto, a descentralização de inumeras quantias do dinheiro público provoca mal-estar nas relações políticas de vários Estados, distanciando ainda mais a resolução dos problemas econômicos.


por Lucas Alves 


[1] ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: Dinheiro, poder e as origens do nosso tempo. 3° reimpressão. Ed. UNESP. Pp. 1.
[2] Informações encontradas no site - http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u444893.shtml.



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