sábado, 23 de junho de 2012

O Livro Vermelho e a Revolução na China

O Livro Vermelho escrito por Mao Tsé-Tung apresenta, ao longo das 427 citações e 33 capítulos, posições do líder Mao a respeito de como a China deveria seguir para um caráter político marxista-leninista. As ideias contidas nesse livro, do “Grande Timoneiro,” como Mao se auto- intitulava, apresenta aspectos capazes de definir sua política como sendo comunista (baseado nas ideias e criticas de Marx e Lênin). No entanto, há outras características e ideias específicas, e que se contextualizavam a realidade chinesa, no pensamento de Mao, algo que o ocidente denominou como Maoísmo. Embora, o Maoísmo possa ser visto como um conjunto de pensamentos políticos a cerca da revolução na China, O Livro Vermelho também apresenta outras estruturas que servem para diálogo para entender a Revolução. Esse é o caso das ideias culturais e economias que devem se desenvolver na China juntamente com o contexto da revolução política proposta por Mao. “Traduzido para várias línguas, O Livro Vermelho, coletânea de máximas e dissertações sobre a guerra, a política, a organização do estado socialista, a literatura, a arte etc.”[1] Ou seja, o Livro Vermelho, que expressa o sentimentos de Mao, não deve ser definido apenas como pensamentos políticos, mas com uma rede de ideias que se desencadeiam para determinado fim e este fim seria a revolução na China.

O capitalismo que se instaurou na China, mediante a um período recente de republica, deveria ruir perante a união e força dos chineses do campo. A revolução na China ocorre diante de um contexto cada vez mais nacionalista e das condições desfavoráveis, pobreza, que afetavam a população do país. A China também conviveu durante alguns períodos do século XX conflitos de caráter civis, mas com a chegada do partido comunista ao poder, influenciado pela União Soviética e sob liderança de Mao Tsé-Tung, em 1949 foi proclamada a união do país com a Republica Popular da China. Com as mudanças radicais do ponto de vista político, econômico, social e cultural a Revolução da China se deu durante o período em que Mao aplicou na China suas ações políticas. Para exemplificar uma ação prática de Mao Tsé-Tung frente ao poder chinês, houve em um dos seus atos a reforma agrária, fator que levou aos camponeses terem um espaço de terra onde eles pudessem trabalhar.

O Livro Vermelho, também apresenta diversos aspectos em que Mao Tsé-Tung, torna essas citações (textos) em praticidade política. No primeiro capítulo do livro Mao relata a importância do Partido Comunista como sendo o principal expoente para formular a revolução e está “fundado na teoria revolucionária marxista-leninista”. A revolução, proposta por Mao, deveria acontecer, a partir da conscientização, da população chinesa, a cerca do comunismo e isso deveria ocorrer a partir da compreensão de luta de classes. Essa luta, segundo o livro, poderia desencadear em conflitos, que se distinguem em guerras injustas – provocadas pelos imperialistas – e progressivas. Para que a população comunista pudesse se firmar perante o imperialismo deveria saber que o conflito seria necessário. “A revolução é uma insurreição, é um ato de violência pelo qual uma classe derruba outra.” Conforme o ideal marxista pensa a história, a luta acaba tendo sua justificativa no que diz repeito a ideia de que a história é construída a partir de luta de Classes.  Embora a guerra seja desagradável a população chinesa possui os inimigos que são apontados pelo livro como os Estados Unidos, Japão, Europa (ou os tigres de papeis) e as forças reacionárias, todos poderiam provocar a luta injusta, mas a população chinesa estaria ciente que a injustiça deveria ser combatido em prol de sua preservação. “Ao mesmo tempo, estão dispostos a travar uma luta apenas de auto-preservação contra elementos reacionários, tanto estrangeiros como nacionais.” Ao citar os elementos reacionários nacionais, Mao Tsé-Tung alerta que é possível haver inimigos em seu próprio país e esses inimigos seriam aqueles que não apoiavam a revolução, ou seja, os reacionários.

Os imperialistas e os reacionários do interior do país jamais se resignarão a derrota e bater-se-ão até a última. Depois de restabelecida a paz e a ordem em todo o país, eles ainda se entregarão, de distintas maneiras, a sabotagem e a provocação de desordens, tentando, diariamente e a cada momento, restabelecer a velha situação. Isso é inevitável e não admite dúvidas; em circunstancia nenhuma devemos relaxar a nossa vigilância. [2]

Ciente dessas possibilidades de criticas vindas do próprio interior da China, a política de Mao visava educar a população visando à teoria marxista-leninista e havia uma recusa, sobre possíveis leituras burguesas. Um filme que ilustra essa política presente na época da revolução chinesa, é a produção: Balzac e a Costureirinha Chinesa. Embora seja uma obra de ficção, há nesse filme alguns aspectos que busca retratar a realidade camponesa na China. O analfabetismo, por exemplo, é um problema apresentado no filme e que se assemelham as condições chinesas. Em outras determinadas cenas, percebe-se o rigor de manter a educação focada nos ideias comunista, pois outros tipos de leituras como o próprio Balzac, que dá nome ao título do filme, é considerada literaturas subversivas e caso alguém fosse pego com uma obra burguesa, seria mandando para um campo de reeducação e o livro seria queimados. No Livro Vermelho Mao Tsé-Tung pensa que os artistas deverão se comprometer a produzir a arte com uma função revolucionária, os operários e os camponeses e soldados deveriam ser temas recorrentes nessas artes, Mao afirma a importância de se privilegiar a Cultura, pois é um importante instrumento em prol da revolução. “A cultura revolucionária é uma poderosa arma revolucionária para as grandes massas populares.”



No que tange o diálogo de repressão, presente no governo de Mao Tsé-Tung, um grupo de estudantes se destacaram. Denominado a Guarda Vermelha esses estudantes defendiam a ideia maoísta e percorreram as regiões da China, em busca de cultivar os ensinamentos abordados no Livro Vermelho. Essa Guarda Vermelha, no entanto, era bastante violenta e chegaram a perseguir os próprios professores universitários, caso algum deles discordassem de alguma ideia de Mao Tsé-Tung. Jiang Ching, esposa do presidente Mao e ex-atriz de cinema, teve sua importância em firmar a cultura na China, ela dizia ser contra as agressões físicas, para Jiang a luta deveria ser travada no campo das ideias e não em agressões. Portanto, vale ressaltar que essa Guarda Vermelha não era um grupo militar, mas independente que buscava firmar um discurso do líder Mao.

No Livro Vermelho, Mao Tsé-Tung lança sua ideia sobre o Exército Vermelho chinês, que deverá está ao lado do ideal comunista e ao lado da população chinesa. “A única aspiração de tal exército é manter-se firme ao lado do povo chinês e servi-lo de todo o coração.” Essa forma de militarismo seria invencível. No entanto, para Mao a violência ou o conflito não poderia ultrapassar o ideal, só faria sentido, ou justificaria a guerra se ela fosse para a manutenção do Partido.

Jiang Ching foi uma das responsáveis por outras mudanças que ocorreu na China durante o governo do líder Mao Tsé-Tung. Denominado Revolução Cultural na China, essa postura política baseava-se em diminuir as críticas feitas pelos próprios integrantes do partido comunista da China a respeito do fracasso que foi o Grande Salto Adiante. O Livro Vermelho aborda a questão da critica e autocritica no próprio seio do partido comunista. “Dentro do Partido, a oposição e a luta entre ideias de naturezas diferentes são um fato frequente. Se não existisse contradições no Partido e não houvesse lutas ideológicas para resolvê-las, a vida do Partido cessaria.” Mesmo embora, essas críticas não fossem extensivas, elas foram feitas diante de ações políticas, que não deram certas, tomadas por Mao Tsé-Tung.

O historiador Eric Hobsbawm em seu livro Era dos Extremos observa que a revolução cultural foi um dos momentos mais destacados do governo de Mao. “O regime de Mao Tsé-Tung atingiu seu clímax na Revolução Cultural de 1966-76, uma campanha contra cultura, a educação e a inteligência sem paralelo no século XX.”[3] Nesse período Mao, teria desenvolvido uma forma de reprimir a educação universitária, a arte as músicas clássicas. Por se tratar de elementos que não tinham uma finalidade próxima ao ideal marxista, Mao então provocou o rompimento dessas manifestações artísticas, tida por ele como artes burguesas e imperialistas.

O Grande Salto Adiante foi uma busca de Mao em tornar o seu país desenvolvido, incentivando a industrialização, mas desde que esse crescimento viesse acompanhado da igualdade e as indústrias fossem nacionais. Com a população deslocando-se do campo para o meio urbano, a fome foi um dos pontos que levou a 20 milhões de mortes na China. Além dessa falta de mão de obra para a agricultura, a seca e a falta de qualidade no trabalho acabou desencadeando em um fracasso para essa proposta de Mao, a falta de contribuição com a URSS nesse período também trouxe essa crise para a proposta de Mao. No Livro Vermelho, Mao admite não ser uma tarefa simples suas ações políticas. “Constitui tarefas muito árdua assegurar uma vida melhor as várias centenas de milhões de chinês e fazer do nosso país, econômica e culturalmente atrasado, um país próspero, poderoso e com alto nível de cultura.”

O maoísmo afirma principalmente na ideia de igualdade que a China deveria se constituir como um país nacionalista e desenvolvido, sobre o controle dos proletariados, mas a igualdade seria primordial para a política da China. Diante dessa concepção o capítulo 31 retrata ideias que possam provocar a igualdade entre a mulher o homem. “É preciso fazer com que todas as mulheres capazes de trabalhar participem na frente de trabalho, segundo o princípio de salário igual para trabalho igual.” Além de fazer sua defesa a mulher, Mao também faz apologia a importância do jovem para o futuro da China. “A vocês pertence o futuro da China.” Segundo, Mao Tsé-Tung pensava os jovens tinha a disposição necessária para a revolução, ainda não tinha o pensamento formado e sempre estão mais dispostos a novos conhecimentos, portanto os jovens são protagonistas na ideia de Revolução da China que Mao pensava.

Mao Tse-Tung além de ser o líder revolucionário, tal como ele é citado, também apresenta outras características políticas. Fica claro, por exemplo, que o comunismo defendido no século XX por outros países inclusive, possui um caráter desenvolvimentista, ou seja, em busca do progresso, mas desde que este crescimento ocorresse no âmbito nacional, dessa forma, também podemos denominá-lo como nacionalista. Mao Tse-Tung ciente que a China era um país com certa predominância rural, afirma que o progresso só seria possível que a população aderisse a igualdade prometida pelo ideal marxista-leninista. Outro caráter que pode ser apresentado a Mao é seu lado populista. Em muitas citações no Livro Vermelho, Mao lança suas expectativas sobre a população chinesa afirmando que a revolução só seria possível se a massa estiver de acordo com os princípios do partido. “A guerra revolucionária é uma guerra de massa; ela só pode realizar-se mobilizando-se as massas e apoiando-se nelas.”

O Livro Vermelho, portanto carrega algumas idéias do líder Mao Tsé-Tung. Ao mesmo tempo em que Mao afirma sua corrente teórica, ele também carrega consigo a realidade da China, portanto nos seus pensamentos havia singularidades do ruralismo da China e dos contextos pelos quais Mao formou sua personalidade. Mao nasceu em uma aldeia rural, teve pouco tempo de estudo primário, pois logo teve “que trabalhar como lavrador.” Ao longo de sua vida, já era possível notar algumas atitudes de liderança, como exemplo a sua participação em movimentos estudantis. Além de um líder Mao Tsé-Tung também é visto como um teórico, recebeu muitas influencias a cerca disso nos seus estudos sobre literatura, história e filosofia. O Livro Vermelho, ainda hoje é considerado uma obra influente, tanto no Ocidente quanto ao Oriente. Quando Mao afirma para a população se unir ele diz: “Povos de todo o mundo, uni-vos e derrotai os agressores norte-americano e todos os seus lacaios.” É possível notar que foi grande o número de vendas feitas durante o período em que Mao comandou a China. Trata-se de um livro que se equipara a Bíblia, no que diz respeito a sua leitura. Mao  Tse-Tung lançou suas idéias em forma de escrita e chamou não apenas a China, mas todo o mundo para se unir contra o capitalismo. Estava lançada o estimulo a luta que se justificava por meio da revolução. Mao Tse-Tung explanava a igualdade, no entanto, quando esteve no poder foram muitos os momentos condireados repressivos. Os inimigos eram afirmados e reafirmados por Mao, diferentemente da liberdade, havia apenas o discurso apontando para o progresso social.

A situação na China comunista até fins da década de 1970 foi dominada por uma implacável repressão, pontilhada por raros afrouxamentos momentâneos (“que desabrochem cem flores”) que serviam para identificar as vítimas dos próximos expurgos.[4]

Seja tornando a Guerra como uma realidade dependente da revolução. Mao Tse-Tung incentivou muitos a aderirem a sua causa. De forma populista ou repressiva, Mao esteve no poder da China ditando a verdade sobre qual deveria ser o futuro dos chineses e como deveria, a população, se comportar perante essa revolução Sobre uma ótica de ditadura democrática, onde ela seria necessária apenas para vencer os inimigos – aos que ousavam ser contra a sua verdade absoluta independente da vontade do homem, Mao Tsé-Tung se tornou um líder questionável, mas com influencias permanentes.  


[1] O Livro Vermelho. Citações do Comandante Mao  Tsé-Tung. pp. 13-14
[2] O Livro Vermelho. Citações do Comandante Mao  Tsé-Tung. pp. 27-28
[3] Era dos Extremos. O Breve século XX 1914 – 1991. p. 488
[4] Era dos Extremos. O Breve século XX 1914 – 1991. p. 488





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